quinta-feira, 25 de abril de 2013

Negócios, Negócios, amigos à parte (nº3) - Nunca confie em seu Tradutor Bing!


O ditador da Coreia do Norte Kim Jong-il conversa com seu estimado conselheiro e tradutor, o Sr. Kim Bing:

- Eu sinto a minha morte se aproximando meu caro Bing. Quando eu morrer eu precisarei que você me faça um grande favor, se fizeres isso será um dos maiores heróis de nossa nação!
- Ó supremo líder, o senhor ainda tem energia de sobra, não precisa se preocupar com a morte por um bom tempo! Eu vejo os posteres com as fotos de Vossa Santidade nas ruas de Pyongyang, o senhor me parece bastante saudável!
- O povo é muito generoso comigo Sr. Bing! Eles passam fome, porque sabem que para a nossa nação ser cada vez mais forte só eu e o meu séquito podemos comer bem! Mas de qualquer forma, eu tenho um pressentimento que não vou durar muito...
- Duvido muito senhor! o povo passa fome com prazer pelo senhor e agradece aos céus por termos um líder tão sábio! Mas caso aconteça esse desastre que seria a sua morte, que favor é este que o senhor me pede?
- Você conhece o meu filho, o Kim Jong-Un, ele é um molenga, o bobão é apaixonado pela democracia, ele vai me suceder como líder e vai entregar nosso pais para os americanos. O Obama vai seduzi-lo rapidinho com aquele papinho dele de governança global, meio ambiente, democracia e etc.
- É líder supremo, ele já me pediu para traduzir filmes e revistas americanas para ele, eu queimei tudo!
- Eu não posso matá-lo, ele é sangue do meu sangue. Eu preciso que você faça o seguinte caso eu morra...
Kim Jong-il explicou seu plano para seu tradutor que prometeu cumpri-lo fielmente.

O ditador estava correto em seus pressentimentos, faleceu pouco mais de um mês depois da conversa com o tradutor.

A primeira vontade do novo ditador foi conversar com seu ídolo Barack Obama, apesar de todos os conselheiros terem lhe alertado que aquele não era o caminho desejado pelo seu falecido pai. O tradutor Bing teria que colocar o plano em funcionamento do falecido ditador mais cedo do que ele imaginava. Kim Jong-Un ligou para Obama e disse:

- Presidente Obama, eu sou seu fã, você é um presidente que inspira toda a Coreia do Norte!
O tradutor Bing balançou a cabeça negativamente e traduziu assim:
- Você é um demônio em forma de homem, a Coreia do Norte te despreza!
O recém-empossado ditador não entendia porque Obama tinha ficado sério. O presidente americano respondeu:
- Realmente é uma pena que você siga a detestável linha empreendida pelo seu pai, teremos dificuldades...
Traduzido por Bing:
- Eu te considero um asno pior do que o seu pai, nós te destruiremos rapidamente!
O ditador estava confuso, ele pensava que o Presidente Obama era um homem de paz. O Norte-Coreano insistiu:
- Eu desejo a paz e a reunificação da Coreia!
Tradutor Bing:
- Eu dominarei a Coreia do Sul!
- Quero abandonar todas os meus projetos nucleares!
Tradutor Bing:
- Construiremos mísseis e mais mísseis, até que possamos atingir o seu país!
- Quero alimentar os que morrem de fome nesse país!
Tradutor Bing:
- Apenas os dirigentes desse país tem direito a se alimentar bem, para serem cada vez mais fortes!
Nesse ponto, Obama já fazia ameaças de guerra, o tradutor Bing nem precisava deturpar as palavras do presidente americano, pela primeira vez durante a conversa, o tradutor traduzia corretamente. Obama bradou:
- ESTOU MOVIMENTANDO TODO O MEU EXÉRCITO PARA INVADIR O SEU PAÍS AGORA, DITADOR SANGUINÁRIO!
Obama desligou o telefone. Durante todo o tempo em que seu pai era vivo, Kim Jong-Un nunca entendeu o motivo da agressividade perante os americanos, agora ele percebia que Obama era um lobo em pele de cordeiro. Ele disse a Bing:
- Prepare nossos mísseis, temos que defender a Coreia desse tirano que é Obama!
Bing sorriu e teve orgulho de si mesmo, o plano tinha funcionado, o jovem ditador estava preparado para seguir o legado de sua família.


sexta-feira, 5 de abril de 2013

O "Xadrez" do Xadrez

(Inspirado no grande documentário "Bobby Fischer against the World", um dos melhores documentários que já vi, fantástico, eu recomendo para quem quer conhecer a história completa desse personagem incrível e verdadeiro.)





O enxadrista se prepara para a maior partida se sua vida. Derrotar o russo e se tornar o campeão mundial de xadrez era a motivação que dirigia sua vida desde a sua adolescência. Num quarto de hotel, num país distante ele visualiza todas as aberturas possíveis, as jogadas, trilhões de combinações circulam em sua mente, que é confusa e brilhante ao mesmo tempo.

Percebe-se que um enxadrista está muito acima da média quando ele consegue, em seus treinamentos, jogar contra si mesmo, interpretando todas as jogadas de seu próximo adversário. Enclausurado em um apartamento, o enxadrista ficava por horas naquele jogo individual que para ele fazia todo sentido, para um observador pareceria uma tremenda loucura. Com a mão esquerda ele movia o bispo preto e com a mão direito posicionava o cavalo branco, tudo em alta velocidade...

Em seus poucos intervalos naqueles dias de preparação para o grande jogo, ele se pegava pensando na sua infância. Conheceu o tabuleiro de xadrez aos seis anos de idade e dele nunca mais se separou, e também por causa dele nunca mais conseguiu se aproximar de outras pessoas, o xadrez era a única coisa que importava para ele. Entretanto ser um gênio do xadrez, tinha o seu preço. Sempre que ele tentava investir em algum relacionamento com outro ser humano, a sua mente de enxadrista entrava em ação, ele analisava cada comportamento da outra pessoa sob os mínimos detalhes, assim como um movimento no xadrez pode desencadear milhões de possibilidade que por sua vez podem desencadear zilhões de outras hipóteses, ele tentava atribuir a cada atitude humana, zilhões de possibilidades.

Para a frustração do enxadrista, esse procedimento não trazia bons resultados em sua vida pessoal, uma vez que o comportamento humano escapa dos ditames lógicos que orientam o jogo de xadrez. Neste é possível prever o movimento do adversário quando se tem um cérebro afiado e treinado, pois existem regras claras e lógicas, já no jogo da vida os movimentos são aleatórios e muitas vezes ilógicos, todas as peças podem se movimentar em qualquer direção. Sua mente brilhante era constantemente bombardeada por ideias aleatórias, não conseguia entender a cadeia lógica dos sentimentos, coisa que homens muito menos inteligentes do que ele pareciam dominar com maestria.

O dia do grande jogo chegou. Os campeonatos mundiais de xadrez eram decididos em 20 partidas que duravam até mais de um mês. Os jogos foram duros, ele se mostrava superior a seu adversário, porém, às vezes se perdia em pensamentos distantes e acabava perdendo alguns jogos por isso. Se sagrou campeão mundial mesmo um pouco desconcentrado. Aquele era o topo de sua carreira, tudo aquilo pelo qual trabalhou, tudo aquilo pelo qual se afastou das pessoas, tudo aquilo pelo qual tocou por tão poucas vezes uma mulher. "Será que tinha valido a pena?", pensava o enxadrista.

Qualquer vitória esportiva conquistada durante a Guerra Fria contra os soviéticos trazia uma fama sem paralelo, no xadrez esse reconhecimento era ainda maior, devido ao domínio dos russos nesse jogo. Porém aquele enxadrista não estava preparado para o sucesso, a única coisa que ele sabia fazer era jogar xadrez e com a conquista da máxima glória, o xadrez parecia não mais fazer sentido para ele. A sua vida perdeu o sentido após a sua grande conquista, o que seria de sua vida agora?

Mesmo sem jogar uma partida de xadrez durante muitos anos após aquele campeonato mundial, o jogo começou a persegui-lo na sua vida cotidiana. Todo grande enxadrista deve ser paranoico quando está jogando, é a melhor maneira de se antever jogadas e pensar em possibilidades, desde que o jogador saiba manter a paranoia restrita ao tabuleiro. Com o campeão aconteceu exatamente o contrário, a paranoia do xadrez contaminou o seu pensamento em seu cotidiano. Ele pensava em bombas atômicas, ele um judeu, advogava teorias antissemíticas absurdas, pensava em teorias da conspiração malucas. A loucura do xadrez grassava incontrolável.

Não era a primeira vez que a loucura se apoderou de um grande enxadrista. Korchnoi disse ter jogado com um morto, Rubinstein pulou de uma janela porque uma mosca o perseguia, Steinitz achava que jogava xadrez contra Deus e ainda ganhava do Todo Poderoso, Carlos Torre tirou a roupa em um ônibus, entre tantos outros exemplos de enxadristas derrotados pela loucura. É o risco que os que se entregam a esse jogo estão sujeitos. O xadrez algema seu mestre, aprisionando sua mente e seu cérebro e até a liberdade do mais forte se abala.

Bobby Fischer, o grande enxadrista, nunca mais conseguiu escapar da paranoia que lhe dominou e faleceu  já idoso em uma cama de hospital, suas últimas palavras teriam sido as seguintes: "Nada cura mais do que o contato humano". Pena que o xadrez não deixou Bobby descobrir isso antes de ser tarde demais.