tag:blogger.com,1999:blog-34300816179638288832024-03-12T19:38:59.849-03:00"O Papel aceita tudo!"Contos, crônicas, piadas, anedotas políticas e de personagens históricos, é o que eu humildemente proponho a escrever neste blog, pois o papel aceita tudo!Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.comBlogger20125tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-36582598732098028502013-05-20T09:15:00.001-03:002013-05-21T09:34:45.009-03:00Uma Semente de Humanidade<div style="text-align: justify;">
Dentro do cérebro, mais especificamente no lóbulo frontal inferior começava mais uma reunião do sindicato dos neurônios-espelho. O Neurônio-presidente tinha a palavra:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Todos aqui sabem nossa função, nós somos os neurônios que dão a capacidade de um ser humano se colocar no lugar de seu semelhante, nossa função é criarmos empatia entre os homens e garantir a convivência entre os diferentes!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os neurônios-espelho da plateia se olharam orgulhosamente, a atmosfera estava elétrica, o presidente continuou seu discurso:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Nossa causa é nobre, porém nossos resultados tem sido abaixo da média. Esse ser humano do qual nós fazemos parte tem se mostrado preconceituoso e intolerante, ele se dedica a incitar atos de discriminação contra aqueles que são diferentes dele mesmo. Seja pessoas de outra cor, opção sexual, credo ou torcedores de outro time, ele prega o ódio todos os dias. Não podemos deixar isso acontecer, temos que fazer alguma coisa!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Os outros neurônios aproximaram seus axônios e começaram a fazer sinapses em sinal de aprovação à fala do presidente, que continuou:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu tenho um plano, nós temos que intensificar nossas sinapses, façamos um mutirão, se nos unirmos ele não terá como nos bloquear e começará a enxergar através dos olhos das pessoas que ele tanto discrimina!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No dia seguinte, os neurônios começaram desde cedo a tentar recuperar um pouco da humanidade e da tolerância perdida por tanto ódio. As sinapses eram tão intensas que era como se a alma do preconceituoso se transferisse como que por mágica para a esfera de consciência daquelas pessoas ofendidas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Logo de manhã bem cedo, Carlos foi assistir ao jornal como de costume, a diferença era que dessa vez algumas notícias lhe causavam grande tumulto nos sentimentos. Uma notícia sobre uma enchente que destruiu uma cidade inteira lhe fez chorar copiosamente, quando antes ele nem ligava para esse tipo de acontecimento. Quando o jornalista falou sobre uma derrota que abalou profundamente a torcida do time rival, ao invés de sorrir e comemorar como sempre fazia ao ver torcedores de outros times chorarem, Carlos se pegou pensando que aqueles torcedores "rivais" amavam o time deles da mesma forma que ele amava o seu e que não era certo sentir prazer ao ver a dor alheia.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O trabalhos dos neurônios-espelho assim prosseguiu durante todo o dia. Carlos viu um mendigo e procurou lhe dirigir algumas palavras carinhosas, no trabalho ele procurou ter paciência com seus estagiários, não usou de palavras de baixo calão quando falava sobre as mulheres de seu trabalho, enfim o projeto dos neurônios ia de vento em popa quando de repente um colega de Carlos lhe dirigiu a palavra:</div>
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<br /></div>
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- Porra Carlinhos, cê tá esquisito hoje, esse não é o Carlos que eu conheço!</div>
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<br /></div>
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Aquela frase pode ser comparada ao som da corneta de um arauto convocando um exército para a batalha, aqueles dizeres acordaram os neurônios de outras regiões do cérebro de Carlos, acordaram o bom e velho Carlinhos...</div>
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<br /></div>
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Uma batalha agora acontecia dentro de seu cérebro, sinais elétricos de ambos os lados do combate iluminavam os hemisférios, era como uma tempestade de verão. Os neurônios do antigo Carlos, com todas as suas crenças preconceituosas atacavam os neurônios-espelho que tentavam transformar Carlos em uma nova pessoa. A batalha seguiu e contando com a superioridade numérica, os neurônios antiquados venceram, esmagaram os neurônios empáticos e ao final do dia Carlos já assistia ao noticiário noturno rindo ao ver desgraças alheias e achando excelente ouvir a notícia de que um homossexual tinha sido assassinado por um grupo de extermínio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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O general dos neurônios-espelho conseguiu reunir algumas tropas e sobreviver, ele disse aos seus comandados:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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- Perdemos a batalha, mas não a guerra! No dia de hoje plantamos a semente de um novo ser, verdadeiramente humano!</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-63712664635153847112013-04-25T09:57:00.001-03:002013-04-25T09:57:36.036-03:00Negócios, Negócios, amigos à parte (nº3) - Nunca confie em seu Tradutor Bing! <br />
<div style="text-align: justify;">
O ditador da Coreia do Norte Kim Jong-il conversa com seu estimado conselheiro e tradutor, o Sr. Kim Bing:</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sinto a minha morte se aproximando meu caro Bing. Quando eu morrer eu precisarei que você me faça um grande favor, se fizeres isso será um dos maiores heróis de nossa nação!</div>
<div style="text-align: justify;">
- Ó supremo líder, o senhor ainda tem energia de sobra, não precisa se preocupar com a morte por um bom tempo! Eu vejo os posteres com as fotos de Vossa Santidade nas ruas de Pyongyang, o senhor me parece bastante saudável!</div>
<div style="text-align: justify;">
- O povo é muito generoso comigo Sr. Bing! Eles passam fome, porque sabem que para a nossa nação ser cada vez mais forte só eu e o meu séquito podemos comer bem! Mas de qualquer forma, eu tenho um pressentimento que não vou durar muito...</div>
<div style="text-align: justify;">
- Duvido muito senhor! o povo passa fome com prazer pelo senhor e agradece aos céus por termos um líder tão sábio! Mas caso aconteça esse desastre que seria a sua morte, que favor é este que o senhor me pede?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Você conhece o meu filho, o Kim Jong-Un, ele é um molenga, o bobão é apaixonado pela democracia, ele vai me suceder como líder e vai entregar nosso pais para os americanos. O Obama vai seduzi-lo rapidinho com aquele papinho dele de governança global, meio ambiente, democracia e etc.</div>
<div style="text-align: justify;">
- É líder supremo, ele já me pediu para traduzir filmes e revistas americanas para ele, eu queimei tudo!</div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu não posso matá-lo, ele é sangue do meu sangue. Eu preciso que você faça o seguinte caso eu morra...</div>
<div style="text-align: justify;">
Kim Jong-il explicou seu plano para seu tradutor que prometeu cumpri-lo fielmente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O ditador estava correto em seus pressentimentos, faleceu pouco mais de um mês depois da conversa com o tradutor.</div>
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<br /></div>
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A primeira vontade do novo ditador foi conversar com seu ídolo Barack Obama, apesar de todos os conselheiros terem lhe alertado que aquele não era o caminho desejado pelo seu falecido pai. O tradutor Bing teria que colocar o plano em funcionamento do falecido ditador mais cedo do que ele imaginava. Kim Jong-Un ligou para Obama e disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Presidente Obama, eu sou seu fã, você é um presidente que inspira toda a Coreia do Norte!</div>
<div style="text-align: justify;">
O tradutor Bing balançou a cabeça negativamente e traduziu assim:</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>- Você é um demônio em forma de homem, a Coreia do Norte te despreza!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
O recém-empossado ditador não entendia porque Obama tinha ficado sério. O presidente americano respondeu:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Realmente é uma pena que você siga a detestável linha empreendida pelo seu pai, teremos dificuldades...</div>
<div style="text-align: justify;">
Traduzido por Bing:</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>- Eu te considero um asno pior do que o seu pai, nós te destruiremos rapidamente!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
O ditador estava confuso, ele pensava que o Presidente Obama era um homem de paz. O Norte-Coreano insistiu:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu desejo a paz e a reunificação da Coreia!</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradutor Bing:</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>- Eu dominarei a Coreia do Sul!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
- Quero abandonar todas os meus projetos nucleares!</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradutor Bing:</div>
<div style="text-align: justify;">
-<b> Construiremos mísseis e mais mísseis, até que possamos atingir o seu país!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
- Quero alimentar os que morrem de fome nesse país!</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradutor Bing:</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>- Apenas os dirigentes desse país tem direito a se alimentar bem, para serem cada vez mais fortes!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Nesse ponto, Obama já fazia ameaças de guerra, o tradutor Bing nem precisava deturpar as palavras do presidente americano, pela primeira vez durante a conversa, o tradutor traduzia corretamente. Obama bradou:</div>
<div style="text-align: justify;">
- ESTOU MOVIMENTANDO TODO O MEU EXÉRCITO PARA INVADIR O SEU PAÍS AGORA, DITADOR SANGUINÁRIO!</div>
<div style="text-align: justify;">
Obama desligou o telefone. Durante todo o tempo em que seu pai era vivo, Kim Jong-Un nunca entendeu o motivo da agressividade perante os americanos, agora ele percebia que Obama era um lobo em pele de cordeiro. Ele disse a Bing:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Prepare nossos mísseis, temos que defender a Coreia desse tirano que é Obama!</div>
<div style="text-align: justify;">
Bing sorriu e teve orgulho de si mesmo, o plano tinha funcionado, o jovem ditador estava preparado para seguir o legado de sua família.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-31944666296839578902013-04-05T18:32:00.003-03:002013-04-06T09:45:46.165-03:00O "Xadrez" do Xadrez<div style="text-align: justify;">
<b>(Inspirado no grande documentário "Bobby Fischer against the World", um dos melhores documentários que já vi, fantástico, eu recomendo para quem quer conhecer a história completa desse personagem incrível e verdadeiro.)</b><br />
<b><br /></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/5sWuhpsG2aU?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<b><br /></b></div>
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<br /></div>
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<br />
<br />
O enxadrista se prepara para a maior partida se sua vida. Derrotar o russo e se tornar o campeão mundial de xadrez era a motivação que dirigia sua vida desde a sua adolescência. Num quarto de hotel, num país distante ele visualiza todas as aberturas possíveis, as jogadas, trilhões de combinações circulam em sua mente, que é confusa e brilhante ao mesmo tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Percebe-se que um enxadrista está muito acima da média quando ele consegue, em seus treinamentos, jogar contra si mesmo, interpretando todas as jogadas de seu próximo adversário. Enclausurado em um apartamento, o enxadrista ficava por horas naquele jogo individual que para ele fazia todo sentido, para um observador pareceria uma tremenda loucura. Com a mão esquerda ele movia o bispo preto e com a mão direito posicionava o cavalo branco, tudo em alta velocidade...</div>
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<br /></div>
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Em seus poucos intervalos naqueles dias de preparação para o grande jogo, ele se pegava pensando na sua infância. Conheceu o tabuleiro de xadrez aos seis anos de idade e dele nunca mais se separou, e também por causa dele nunca mais conseguiu se aproximar de outras pessoas, o xadrez era a única coisa que importava para ele. Entretanto ser um gênio do xadrez, tinha o seu preço. Sempre que ele tentava investir em algum relacionamento com outro ser humano, a sua mente de enxadrista entrava em ação, ele analisava cada comportamento da outra pessoa sob os mínimos detalhes, assim como um movimento no xadrez pode desencadear milhões de possibilidade que por sua vez podem desencadear zilhões de outras hipóteses, ele tentava atribuir a cada atitude humana, zilhões de possibilidades.</div>
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<br /></div>
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Para a frustração do enxadrista, esse procedimento não trazia bons resultados em sua vida pessoal, uma vez que o comportamento humano escapa dos ditames lógicos que orientam o jogo de xadrez. Neste é possível prever o movimento do adversário quando se tem um cérebro afiado e treinado, pois existem regras claras e lógicas, já no jogo da vida os movimentos são aleatórios e muitas vezes ilógicos, todas as peças podem se movimentar em qualquer direção. Sua mente brilhante era constantemente bombardeada por ideias aleatórias, não conseguia entender a cadeia lógica dos sentimentos, coisa que homens muito menos inteligentes do que ele pareciam dominar com maestria.</div>
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<br /></div>
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O dia do grande jogo chegou. Os campeonatos mundiais de xadrez eram decididos em 20 partidas que duravam até mais de um mês. Os jogos foram duros, ele se mostrava superior a seu adversário, porém, às vezes se perdia em pensamentos distantes e acabava perdendo alguns jogos por isso. Se sagrou campeão mundial mesmo um pouco desconcentrado. Aquele era o topo de sua carreira, tudo aquilo pelo qual trabalhou, tudo aquilo pelo qual se afastou das pessoas, tudo aquilo pelo qual tocou por tão poucas vezes uma mulher. "Será que tinha valido a pena?", pensava o enxadrista.<br />
<br />
Qualquer vitória esportiva conquistada durante a Guerra Fria contra os soviéticos trazia uma fama sem paralelo, no xadrez esse reconhecimento era ainda maior, devido ao domínio dos russos nesse jogo. Porém aquele enxadrista não estava preparado para o sucesso, a única coisa que ele sabia fazer era jogar xadrez e com a conquista da máxima glória, o xadrez parecia não mais fazer sentido para ele. A sua vida perdeu o sentido após a sua grande conquista, o que seria de sua vida agora?<br />
<br />
Mesmo sem jogar uma partida de xadrez durante muitos anos após aquele campeonato mundial, o jogo começou a persegui-lo na sua vida cotidiana. Todo grande enxadrista deve ser paranoico quando está jogando, é a melhor maneira de se antever jogadas e pensar em possibilidades, desde que o jogador saiba manter a paranoia restrita ao tabuleiro. Com o campeão aconteceu exatamente o contrário, a paranoia do xadrez contaminou o seu pensamento em seu cotidiano. Ele pensava em bombas atômicas, ele um judeu, advogava teorias antissemíticas absurdas, pensava em teorias da conspiração malucas. A loucura do xadrez grassava incontrolável.<br />
<br />
Não era a primeira vez que a loucura se apoderou de um grande enxadrista. Korchnoi disse ter jogado com um morto, Rubinstein pulou de uma janela porque uma mosca o perseguia, Steinitz achava que jogava xadrez contra Deus e ainda ganhava do Todo Poderoso, Carlos Torre tirou a roupa em um ônibus, entre tantos outros exemplos de enxadristas derrotados pela loucura. É o risco que os que se entregam a esse jogo estão sujeitos. O xadrez algema seu mestre, aprisionando sua mente e seu cérebro e até a liberdade do mais forte se abala.<br />
<br />
Bobby Fischer, o grande enxadrista, nunca mais conseguiu escapar da paranoia que lhe dominou e faleceu já idoso em uma cama de hospital, suas últimas palavras teriam sido as seguintes: "Nada cura mais do que o contato humano". Pena que o xadrez não deixou Bobby descobrir isso antes de ser tarde demais.<br />
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-65707638150844320792013-03-03T19:41:00.002-03:002013-03-03T20:07:49.929-03:00Dia D Lucrar(Esse conto foi inspirado na música "The Longest Day" do Iron Maiden)<br />
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Um velho deitado em uma cama de hospital aguarda a visita da morte, em seu leito mais uma vez ele se lembra do inesquecível dia de 6 de Junho de 1944, um dia que viveu esses anos todos em sua memória, era como se todas as manhãs ele tivesse acordado naquele fatídico amanhecer em uma praia da Normandia...</div>
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<br /></div>
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A tropa se encontrava em um barco que mas parecia uma lata de sardinhas, ao lado, atrás, à frente, milhares de outros barcos como aquele, era como uma surreal "linha de produção" da morte, milhares e milhares de seres humanos sendo encaminhados ao seu destino final, O Sr. Henry Ford nunca imaginou que as suas ideias que revolucionaram o capitalismo seriam empregadas de tão sinistra maneira, a morte enlatada, indiferenciada, pasteurizada, sem personalidade, sem rosto, sem identidade. Todos que avançavam na linha de montagem da morte se encaminhavam para um fim idêntico, como se a Morte fosse a dona daquela empresa e estivesse aguardando ansiosamente pelos seus produtos com a foice em uma mão e o relógio na outra.</div>
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<br /></div>
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O velho que finalmente se preparava para encontrar seu destino após todos esses anos era, na época do dia D, um Capitão do exército americano, portanto, tinha a cruel tarefa de liderar homens, ou melhor, meninos, muitos nem sequer tinham sentido o calor de uma mulher, naquele dia liderá-los significava praticamente levá-los à Morte, que impacientemente aguardava os lucros daquele enorme empreendimento, quanto lucro, com certeza a Morte precisaria de aumentar seu capital para conseguir levar todas aquelas almas de uma só vez.</div>
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<br /></div>
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O Capitão era talvez 5 anos mais velho do que a sua tropa, tentava transparecer uma coragem e uma experiência que ainda não lhe pertenciam naquele estágio da vida, e com certeza ele não estava preparado para todo o impacto do que ele veria naquele dia. O dia amanheceu como se não houvesse manhã, a luz do sol era bloqueada pela fumaça dos barcos e das explosões causadas pelos projéteis de artilharia incessantes. Os projéteis se chocavam com o mar e causavam grandes ondas que faziam os barcos balançarem e os soldados vomitarem. Era apenas um teste de qualidade, a fim de preparar os produtos para o seu destino final...</div>
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<br /></div>
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Em sua mente ainda ecoava a mensagem do General Eisenhower, transmitida a todo o exército na véspera da invasão, uma mensagem que exortava os homens a serem corajosos para que fosse possível destruir os malignos nazistas. O jovem capitão, ao olhar para aqueles jovens amedrontados em seu barco, tinha dúvidas se o verdadeiro inimigo estava à sua frente ou se estava mesmo atrás deles, em seu próprio país, na forma dos ricaços que lucravam milhões com aquela guerra. A mensagem do General Eisenhower era muito nobre, muito bonita, mas se destinava a pobres coitados que deveriam jogar sua vida fora para que os interesses econômicos de milionários pudessem ser protegidos. No fundo, o Capitão sabia que eles não lutavam pela liberdade ou pela pátria, mas sim pela grana de poucos, e esse poucos não se responsabilizariam pelas mortes daqueles jovens. Era como se os grandes industriais e banqueiros americanos e ingleses tivessem assinado um contrato com a Dona Morte, trocavam almas por muita grana e influência...</div>
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<br /></div>
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Apesar de todas as suas dúvidas sobre os verdadeiros motivos daquela guerra, o capitão tentou liderar seus homens no desembarque na praia sangrenta da melhor forma possível, tentando cortar ao máximo os lucros que a Dona Morte aguardava ansiosamente. Ele fez o possível e o impossível para salvar seus homens, distribuiu morfina, estancou sangramentos, mandou os homens se abaixarem, tudo isso em baixo de saraivadas e mais saraivadas de chumbo quente. Não adiantou, por mais que ele tentasse, os homens que, se situavam covardemente longe do combate, tinham fornecido todos os instrumentos para que o empreendimento Morte S/A fosse um sucesso estrondoso. As balas chegavam zunindo e vinham como etiquetas, a selar o destino daqueles pobres jovens, que em breve seriam acondicionados em caixões e despachados ao seu destino final, para regozijo de Dona Morte e indiferença de seus aliados ricos, que estavam mais preocupados com a próxima grande venda de armamentos de guerra.</div>
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<br /></div>
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O Capitão sobreviveu ao Dia D e à Segunda Guerra Mundial, talvez a Dona Morte preferiu poupá-lo pois não desejava uma alma que suspeitasse de suas negociatas e de seus acordos secretos. Aquelas lembranças do dia mais longo da vida daquele velhinho pareciam ser o prelúdio do que estava por vir. Finalmente a Dona Morte, até porque o corpo do velho não aguentava mais, vinha a contragosto lhe buscar. Um tempo de Revolução se avizinhava nas empresas Morte S/A com a chegada daquela alma que sabia demais...</div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<object class="BLOGGER-youtube-video" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=6,0,40,0" data-thumbnail-src="http://2.gvt0.com/vi/BSJ8rDlBZ_I/0.jpg" height="266" width="320"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/BSJ8rDlBZ_I&fs=1&source=uds" /><param name="bgcolor" value="#FFFFFF" /><param name="allowFullScreen" value="true" /><embed width="320" height="266" src="http://www.youtube.com/v/BSJ8rDlBZ_I&fs=1&source=uds" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true"></embed></object></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-37692988938902009432013-02-18T09:51:00.002-03:002013-02-19T08:19:46.155-03:00O Soluço Salvador<div>
<br /></div>
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(Dedicado à Carolina, que, indiretamente, me deu a ideia para esse conto)</div>
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<br /></div>
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Era uma vez uma garota que vivia a soluçar para todos os lados, ela passava os seus dias soluçando sem parar. Ela dificultava a vida de seu dentista, ele não conseguia executar com precisão as suas técnicas, tendo que administrar aqueles solavancos causados pelos soluços perenes. Ela não podia dirigir, aqueles movimentos bruscos causados pelos soluços faziam-na perder o controle do carro, tinha dificuldades até mesmo para ingerir os alimentos que ficavam pulando em sua boca.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ela já havia visitado vários especialistas, tomado remédios tradicionais, alternativos, medicina chinesa, acupuntura, pai de santo, rituais xamânicos, nada disso funcionava. Na verdade, existia uma coisa que funcionava, que realmente fazia seus soluços pararem temporariamente, era a ingestão contínua de cerveja. Alguém pode se perguntar se o método número um para cura de soluços funcionava para ela, a resposta é não, a água apenas intensificava o seu soluçar. Quase todos os dias ela tinha que ingerir pequenas doses de cerveja para conseguir levar o seu dia de uma maneira razoavelmente tranquila.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um dia desses a garota teve que sair de casa às pressas, ela tinha que passar no banco e verificar uma questão financeira da empresa para a qual ela trabalhava. Ritualisticamente, ela tomou uma long neck para controlar seus soluços, a ingestão de apenas uma garrafa conseguia segurar seus soluços por mais ou menos uma hora, ela pensou que seria tempo suficiente para passar no banco e cuidar da questão da empresa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando a garota chegou no banco, encontrou uma fila enorme, o tamanho da fila assustava, mas a garota acreditava que daria tempo de resolver tudo antes do soluço voltar. Foi nesse momento que uma das pessoas na fila sacou uma arma e gritou:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Todo mundo no chão, isso é um assalto!</div>
<div style="text-align: justify;">
Outro assaltante tratou de render os dois seguranças do banco e todas as pessoas se deitaram no chão. A garota se revirava no chão, incendiada pelo álcool e preocupada com o provável retorno iminente de seus soluços. Quinze minutos depois, a polícia chegou e um dos assaltantes achou que seria melhor ter um refém consigo. A essa altura, o soluço retornava levemente, o que fez a garota ser notada pelo ladrão de bancos e não deu outra, o ladrão a escolheu como sua refém. Tal escolha fez com que os soluços ganhassem em intensidade, o que fez com que o ladrão ficasse ainda mais nervoso e gritasse:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Alguém faz essa garota parar de soluçar! que porra! se você não parar de soluçar eu vou te matar!</div>
<div style="text-align: justify;">
A garota respondeu entre um soluço e outro:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Para eu parar de soluçar eu preciso de cerveja! por favor me dê cerveja!</div>
<div style="text-align: justify;">
O ladrão ficou ainda mais nervoso:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Você está louca, querendo cerveja numa hora dessas! Alguém traz um copo de água pra ela!</div>
<div style="text-align: justify;">
O outro assaltante trouxe rapidamente um copo de água e deu o copo para a garota, mas ela resistia à água não queria beber de jeito nenhum, até que o ladrão disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Bebe se não eu te mato agora! não aguento mais essa merda de soluço!</div>
<div style="text-align: justify;">
Relutantemente a garota bebeu a água e quase que instantaneamente ela deu um soluço tão forte que a parte de trás da sua cabeça golpeou fortemente o nariz do ladrão que a dominava e ele caiu no chão com o nariz ensanguentado, sua arma tinha ido parar longe. O outro assaltante ficou totalmente atônito, as pessoas rendidas, inspiradas pelo que elas pensavam ser um gesto de coragem da garota aproveitaram a oportunidade e nocautearam o assaltante atônito. A garota se transformou em uma heroína nacional.</div>
<div style="text-align: justify;">
Depois daquele dia, a garota, aproveitando a sua fama, resolveu criar uma arte marcial para defesa pessoal baseada nos movimentos involuntários e repentinos do soluço, o Soluço-Jitsu, e de fato ganhou uma fortuna ministrando aulas no mundo inteiro e vendendo DVDs. Em suas aulas, ela condenava veementemente a ingestão de bebidas alcoólicas.</div>
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-30737280434432766902013-02-04T23:26:00.000-02:002013-02-04T23:26:17.720-02:00A Encruzilhada de Barcelos<div>
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Pablo Barcelos era um comentarista de futebol das antigas, chegou ao topo devido à sua habilidade em cultivar boas amizades no meio futebolístico e principalmente por saber comentar futebol de uma maneira bem peculiar. Os comentários que saiam da boca de Barcelos em um jogo televisionado eram conhecidos clichês futebolísticos do tipo: "esse time precisa tocar mais a bola", "o time fez um gol, agora vai ficar fechadinho no contra-ataque", além do profético e usado em quase todos os jogos por Barcelos: "Esse gol já estava amadurecendo há uns 15 minutos". Apesar de estes serem clichês utilizados pela maioria dos comentaristas de futebol, Barcelos tinha um jeito bonachão e meio malandro de comentar que dava uma leveza simplória à transmissão, o que cativava muitos telespectadores enfeitiçados pela habilidade do comentarista em esconder o seu conhecimento rasteiro e a sua falta de preparo em seu trabalho.</div>
<div style="text-align: justify;">
Era chegada a Copa do Mundo e Barcelos se preparava para mais um grande evento, para ele as Copas do Mundo e as Olimpíadas eram tudo que havia de melhor em sua profissão, poder viajar para um país estrangeiro com tudo pago para exercer aquele seu trabalho fácil com certeza era o sonho de qualquer um. O seu último grande evento havia sido uma Olimpíada, ele comentava os outros esportes com a mesma "qualidade" que opinava sobre futebol, os telespectadores puderam acompanhar na última Olímpíada grandes comentários como "O Badmington é a peteca de raquetes", "O lance livre é o penalti do basquete" e o fantástico "empurrou ele pra fora do tatame, não foi ippon?".</div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar das suas aventuras olímpicas, era nas Copas do Mundo que Barcelos fazia o seu nome, conciliando os clichês com o patriotismo, um de seu clássicos bordões de copa era "Esse é o futebol brasileiro, partiu para o drible e deixou o zagueiro caído no chão", o seu desconhecimento tático não lhe permitia ver o jogo como um jogo de 11 contra 11, só conseguia enxergar o jogador que estava com a bola e aquele que o marcava, sua mediocridade era transmitida via satélite e era partilhada pela maioria dos telespectadores que idolatravam-no.</div>
<div style="text-align: justify;">
A Copa do Mundo se desenrolou da maneira habitual, com Barcelos carregando no patriotismo e nos seus bordões famosos. Para a infelicidade do velho comentarista, o Brasil dançou nas Quartas-de-Final, o que prejudicava um pouco o seu "jogo", mas nada que não pudesse ser contornado pela sua malandragem. Era chegada a véspera da Final da Copa do Mundo e Barcelos resolveu relaxar um pouco no bar do hotel, foi quando a visão de um outro jornalista chamou a sua atenção. O jornalista estava mergulhado no seu Laptop, parecia que fazia algumas contas e lia várias revistas. Barcelos com seu jeito malandrão resolveu sentar-se à mesa e conversar com o jornalista:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Ei cara, eu te conheço você é aquele cara daquele canal a cabo que todo mundo diz que entende tudo de tática...</div>
<div style="text-align: justify;">
O jornalista percebeu o desdém na voz de Barcelos.</div>
<div style="text-align: justify;">
-Eu tento me preparar para entender o jogo e passar uma informação correta para quem está assistindo ao jogo.</div>
<div style="text-align: justify;">
-Bla Bla Bla, quem assiste ao jogo quer se divertir e nada mais.</div>
<div style="text-align: justify;">
-Você pode manter o seu estilo divertido e passar boa informação para o público, não são coisas que se excluem mutuamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Barcelos não tinha muito o que fazer então resolveu aprender um pouco do que o jornalista sabia de tática.</div>
<div style="text-align: justify;">
-Vamos lá então! Me explique algo mais básico.</div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez animado por uma leve embriaguez, Barcelos se permitiu abrir para esse novo conhecimento e nas duas horas seguintes se maravilhou com a complexidade tática do futebol, todas as nuances do jogo, os estratagemas utilizados pelos técnicos eram incríveis, estava tudo ali na sua frente e ele nunca tinha percebido. Barcelos mal conseguiu dormir naquela noite, uma mistura de arrependimento e expectativa embalava os seus pensamentos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Finalmente era chegada a Final da Copa, os colegas de Barcelos perceberam que ele estava bem calado, era a calmaria que vem antes das grandes tempestades, uma mudança de curso se aproximava para o velho comentarista, é claro que ele estava com medo, mas alguma coisa lhe dizia que ele deveria se transformar em um verdadeiro expert e utilizar aqueles conhecimentos adquiridos na noite anterior. O narrador convocou Barcelos para um comentário após o primeiro lance de perigo, o comentarista começou a desfilar seus novos conhecimentos de maneira um pouco confusa:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Essa marcação pressionada foi o que causou a diminuição no fluxo de passes do time adversário, resultando na interceptação da bola e uma finalização bem proveitosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
O narrador olhou assustado para Barcelos, o que era aquilo, quem era aquela pessoa estranha do seu lado que fazia comentários rebuscados, totalmente diferentes do conhecido Barcelos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Barcelos continuava sua busca pela excelência com comentários como "O 4-4-2 é um esquema ultrapassado atualmente", "esse volante não pratica um futebol moderno, falta dinâmica ao seu jogo", lá pelas tantas quando os fãs de Barcelos já reclamavam nas redes sociais pedindo pelo velho Barcelos, o narrador lhe disse com o microfone desligado:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Você está maluco? como você sempre disse, em time que está ganhando não se mexe, comente como você sempre comentou! Se você continuar com isso você vai perdeu seu emprego porra!</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas naquela altura o conhecimento tático adquirido parecia ter se apoderado completamente do comentarista e ele retrucou:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Nada disso, mesmo se o resultado é positivo, pode-se modificar taticamente a equipe para que a mesma possa elevar o nível do seu jogo!</div>
<div style="text-align: justify;">
A profecia do narrador se tornou realidade, a audiência daquele jogo foi tão ruim que Barcelos perdeu seu emprego no dia seguinte, ele acabou saindo do seu transe tático com o choque da demissão, dali para frente Barcelos nunca mais conseguiu arrumar emprego em nenhuma emissora. Os canais mais populares tinham medo do "Barcelos tático" e os outros canais não queriam o "Barcelos malandrão". Ele ficou para o resto dos seus dias vivendo nessa encruzilhada, a passar seus dias sentado em uma mesa de bar se arrependendo do dia em que se sentou em uma mesa de bar.</div>
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-83044433723604987762013-01-24T10:29:00.002-02:002013-01-24T10:53:44.760-02:00A Flor de Lótus<div>
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Gabrielle estava preparada para a maratona olímpica que se iniciaria dentro de instantes, acreditava que poderia conseguir uma boa classificação, porém não chegava ao ponto de sonhar com uma medalha. Toda a sua preparação ao longo de uma vida culminava naquele momento antes de ser dada a largada.</div>
<div style="text-align: justify;">
O sol de Los Angeles era implacável, a prova se iniciava com Gabrielle se esforçando para se adaptar àquele calor insuportável que minava a sua resistência.</div>
<div style="text-align: justify;">
À medida que a maratona se desenrolava, Gabrielle sentia que se deflagrava dentro dela uma batalha entre a sua mente e o seu corpo. O seu espírito competitivo lhe dizia que ela tinha todas as condições de terminar aquela prova e realizar o sonho de cruzar a linha de chegada no estadio olímpico lotado, uma imagem que a fazia seguir mesmo com escassas energias, o corpo por sua vez lhe dava sinais de cansaço evidentes, começava a lhe faltar suor para manter a temperatura de seu corpo em um nível aceitável. Mas ela continuava, com cada passada que dava se aproximava do seu sonho, a mente tentava dominar o corpo pelo menos por mais alguns minutos, o estádio olímpico não estava distante...</div>
<div style="text-align: justify;">
Gabrielle dobrou a próxima curva e se deparou com o imponente Coliseu de Los Angeles, porém no estado físico que ela se encontrava, a visão parecia ser insuficiente para manter o seu corpo ereto, a sua postura já não era de uma atleta, mas sim de uma velha cansada. Só mais alguns metros - pensou Gabrielle. Nessa altura da prova cada metro era como uma maratona em si, cada passada era um suplício, cada ato de respirar era como se a atleta inspirasse Gás Carbônico e expirasse Oxigênio, tamanha era a sua estafa, mas de alguma forma a sua mente segurou as pontas e ordenou que as pernas continuassem. Mesmo tentando manter uma passada digna, esta era, nesse ponto, uma caminhada sofrida.</div>
<div style="text-align: justify;">
À duríssimas penas, a combalida Gabrielle entrou no estadio olímpico lotado. A força de vontade demonstrada pela atleta contagiou todo o estádio que aplaudiu em uníssono. Sendo aplaudida ou não, Gabrielle não desistiria àquela altura da maratona, ela atingiu uma espécie de estado alterado de sua consciênscia, conseguiu transformar as incríveis dores que sentia em mais um combustível para continuar sua árdua caminhada. A maratonista dobrou a última curva da pista, alguns médicos se colocavam perto dela, mal sabiam esses doutores que tamanha era a sua determinação que caso eles tentassem impedir-na de terminar a prova, ela seria tranquilamente capaz de lhes empurrar e simplesmente seguir, seguir e seguir em frente.</div>
<div style="text-align: justify;">
A linha de chegada agora estava muito perto e apesar do estádio tremer de emoção, Gabrielle nada ouvia, para ela naquele momento, tudo se resumia ao seu objetivo. A sua mente só permitiu ao corpo o descanso merecido, após a conquista do objetivo almejado, desabando gloriosamente nos braços dos médicos. Gabrielle concluiu a sua maratona epicamente, entrou para o seleto panteão dos heróis olímpicos, porém a sua grande conquista naquele dia foi a descoberta de uma Gabrielle que Gabrielle não conhecia, ela descobriu na adversidade o seu melhor lado, um lado forte que dali em diante dominou todos os aspectos de sua vida. Ficou provado que o ser humano é como a Flor de Lótus, nós florescemos nas situações mais complicadas com as quais nos deparamos.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/YZFNiuuApFU?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-55966036769513733072013-01-09T09:26:00.002-02:002013-01-11T09:49:54.646-02:00O Pesadelo de Péricles?<br />
<div style="text-align: justify;">
Por feitiço de sua mente adormecida, Péricles se viu acordando na Atenas do ano de 2012 ao invés de uma manhã normal em 435 A.C., ele estava sujo e se via deitado ao lado de outras pessoas sujas, estava com fome e se sentia atordoado por um aparente abuso de bebida alcóolica, apesar de ser um sonho, parecia tão real, era como se a mente do grande governante da era dourada da cidade-estado de Atenas furasse a barreira do tempo que separava as duas Atenas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Parecia que o grande nobre ateniense se via na posição de alguma espécie de escravo sem dono, pois mesmo os escravos na Atenas que ele conhecia não eram tão sujos. Ele começou a tentar escutar os outros "escravos" para tentar descobrir aonde estava. Ele sabia que era Atenas, pois ele via o Partenon ao fundo, a grande obra da sua vida. Ao tentar escutar os que estavam ao seu lado, não conseguiu entender muita coisa pois o grego que eles falavam tinha apenas traços da língua grega com a qual ele estava acostumado a proferir seus belos discursos. A frustração com a sua incapacidade de entender o que os outros falavam fez com que ele passasse a se concentrar nas pessoas que ali transitavam em máquinas misteriosas que expeliam uma espécie de nuvem mal-cheirosa, parecia que aquela nuvem tóxica se espalhava no ar da cidade. Os transeuntes andavam apressadamente em roupas estranhíssimas para Péricles, as construções eram de um material esquisito e chegavam a alturas inacreditáveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
Péricles era um homem muito inteligente, educado pelos melhores filósofos de Atenas, e não demorou muito para perceber aonde estava, era a Atenas de um futuro bem distante - concluiu o embasbacado Péricles. O grande estadista agora não se via tão assustado, ele estava maravilhado pela possibilidade de poder vislumbrar o belo futuro de sua civilização e de sua cidade. Olha só que máquinas incríveis, que prédios fantásticos, com certeza minha Atenas está na vanguarda deste tempo! - pensou o animado Péricles.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tal sentimento cresceu dentro de Péricles quando ele caminhou pela rua Ermou com suas lojas suntuosas, ele não percebeu que sua condição de pobretão enojava as pessoas que ali transitavam, não tinha como percebê-lo, estava tão maravilhado que tinha esquecido que nessa Atenas ele era um mendigo. Sua mente acelerava enquanto ele passeava nas redondezas dos palácios de consumismo da atual nobreza de Atenas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi então que Péricles se deparou com uma banca de jornais, nem mesmo sentiu o desprezo com que o jornaleiro lhe olhava, uma vez que escritos em papéis afixados ali atraíram seu olhar. Apesar de não entender o grego que os Atenienses modernos falavam, Péricles conseguia entender os escritos, que pareciam não haver mudado tanto, apesar de ter algumas diferenças, parecia basicamente o mesmo alfabeto. Péricles leu os papéis, no início as informações ali contidas lhe deixaram ainda mais satisfeito com o futuro de sua Atenas, ele descobriu que Atenas era capital de toda a Grécia unida sob sua direção. Conquistamos aqueles nefastos espartanos! - pensou Péricles com ar de conquistador irresistível. Mas à medida que ele lia os papéis, se informava a respeito da pobreza da Grécia e como ela era naquele tempo uma espécie de periferia do mundo, sobrevivendo basicamente de esmolas de nações mais poderosas e sendo de fato comandada pelo que deveriam ser dois deuses desse tempo, um tal de FMI e uma tal de União Europeia.</div>
<div style="text-align: justify;">
Péricles continuou andando pelas ruas de Atenas, agora mais cabisbaixo, ainda com dificuldades para acreditar no futuro de sua querida cidade, quando de repente ouviu um estalo forte e viu pessoas correndo desesperadamente. Ele estava na Exárchia, o centro das agitações e dos protestos em Atenas, e presenciava uma espécie de batalha campal, será que a cidade está sendo invadida? - pensou o assustado Péricles. Uma lágrima se formou no olho do estadista quando ele notou que aquela era uma batalha entre atenienses, provavelmente fruto da pobreza em que a cidade se encontrava. Foi quando um indivíduo apontou um artefato desconhecido na direção de Péricles, e em tom ameaçador balbuciou palavras que ele não entendeu, ele continuou olhando para o indivíduo que agora estava ainda mais irritado. Péricles ouviu um barulho assustador...</div>
<div style="text-align: justify;">
Péricles acordou assutado em seus aposentos familiares na Atenas de sua época, sua mulher Aspasia dormia tranquilamente ao seu lado. Ele foi para a janela e começou a pensar sobre aquele pesadelo incrível que tinha passado em sua mente. O seu lado mais racional tinha certeza que aquilo não passava de um pesadelo, pois ele tinha certeza do futuro glorioso de sua Atenas, mas um outro lado de Péricles não conseguia desacreditar da realidade daquele pesadelo, para esse lado parecia que os deuses lhe tinham possibilitado um vislumbre do futuro sombrio de sua cidade. Péricles nunca mais foi o orador brilhante que havia sido, aquela dúvida eliminou a sua segurança e permaneceu até os seus últimos dias alojada em sua mente.</div>
<div style="text-align: justify;">
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-21906240339878873212012-12-31T14:50:00.004-02:002013-06-05T12:53:15.944-03:00Espírito do Guerreiro( Para o nosso eterno amigo e capitão do Chora Rita, Valcir (In Memorian), que teve uma praça inaugurada em sua homenagem na cidade de Pains no dia 29/12/12)<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
A Professora da Escola Municipal da cidade de Pains entra na sala de aula, a agitação dos alunos ampliava o calor que fazia naquele verão do ano de 2092, lentamente a conversa dos alunos cessa quando a professora começa a falar :</div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu quero que vocês conheçam a história da nossa cidade, por isso vocês farão um trabalho para mim. Cada um escolherá um local da cidade e explicará a história desse lugar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Alguns alunos se sentiram motivados pela tarefa, outros se aborreceram e consideraram aquela tarefa chatíssima. Um dos alunos que mal prestou atenção na professora e que reclamou muito ao saber do conteúdo do trabalho escolar ao conversar com seus colegas no intervalo foi o adolescente Rodolfo. Ele era um garoto órfão que morava com uma tia e não tinha muitas referências na vida, a bagunça e as travessuras na escola eram o que dava sentido à sua vida. O único lugar aonde sentia que podia esquecer seus problemas de menino largado era na quadra de futsal durante o recreio. O seu estilo de jogo, porém, espelhava a sua situação de órfão meio abandonado, era extremamente individualista ao conduzir a bola e não ajudava muito os colegas de time na marcação, além disso só demonstrava algum ânimo quando se encontrava com a posse da bola. Por isso, apesar de possuir uma considerável habilidade futebolística sempre era escolhido por último, depois mesmo dos mais perebas da turma.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ao chegar em casa naquele dia, teve vontade de fazer suas bagunças, jogar Playstation 25 e nem encostar nas coisas da escola, porém ele se lembrou daquele trabalho escolar chato e deu uma olhada no seu boletim digital bastante avermelhado, e pensou de maneira inédita que deveria se dedicar àquele trabalho. De maneira comodista, ele pensou em investigar a história da pequena praça do lado da sua casa, de fato até aquele dia ele não sabia nem o nome daquela praça aonde ele tinha vivido boa parte da sua infância. Resolveu começar pelo óbvio, se dirigindo até a praça para observar a placa que ele nunca tivera disposição de ler. A placa já estava bastante desgastada pelo decurso do tempo, mas ele conseguiu identificar o nome da praça, que resistia bravamente ao desgaste, enquanto os nomes dos administradores responsáveis pela praça na época da inauguração já estavam irreconhecíveis. Era a praça Valcir Farias Júnior.</div>
<div style="text-align: justify;">
Rodolfo só tinha aquele nome mas não tinha muitas pistas para começar a sua pesquisa, veio-lhe à mente a ideia de perguntar à pessoa mais velha da cidade, um dos poucos que eram vivos na época da inauguração, por obra do acaso ou do destino, o referido senhor passava pela praça com uma sacola de pães. Rodolfo explicou-lhe sobre a pesquisa e logo em seguida perguntou:</div>
<div style="text-align: justify;">
- O senhor sabe quem foi esse Valcir que dá nome a essa praça?</div>
<div style="text-align: justify;">
Aquela pergunta fez o velho abaixar a cabeça e olhar para o chão.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Foi um jovem advogado que faleceu em um acidente aqui em Pains no ano de 2014, ou foi 2015 a não foi 2012, isso foi em 2012.</div>
<div style="text-align: justify;">
- O senhor pode me falar mais sobre isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
- A maneira como ele morreu não importa, o que eu posso dizer é que o Valcir mudou para sempre o espírito de nossa cidade, a cidade se uniu para buscá-lo quando ele estava desaparecido de uma forma que nunca se tinha visto antes, parecia que todos fomos tomados por um espírito de luta e garra qua aqui não havia antes e eu posso dizer que ao longo da minha vida, depois do incidente com o Valcir, nossa cidade sempre se marcou pela União em torno de grandes causas e pela dedicação de todos à coletividade. Parece que de certa forma, o espírito do Valcir nos anima até hoje.</div>
<div style="text-align: justify;">
Rodolfo agora já muito interessado na história muito mais pelo personagem do que pela praça em si, queria descobrir mais sobre esse Valcir e todo esse impacto causado por ele na cidade de Pains.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Aonde eu posso saber mais sobre o Valcir?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu lembro do irmão dele que era um pouco mais jovem do que ele, Rodrigo se não me engano, não é ... Gustavo o nome dele. Não sei se ainda é vivo, mas você pode procurar a família dele, eles moravam em Contagem naquela época.</div>
<div style="text-align: justify;">
Rodolfo agradeceu e foi embora quase correndo, chegou em casa e começou a pesquisar na internet de seu iphone 80, não era muito difícil encontrar pessoas na internet, a era da tecnologia já havia substituído a era da privacidade há algum tempo. Rodolfo rapidamente localizou o número do vídeo fone atualizado dos familiares de Valcir em Contagem e como que tomado por uma vontade inédita de fazer alguma coisa produtiva tentou entrar em contato com algum familiar por vídeo fone, o aparelho chamou e rapidamente um senhor de uns 70 anos respondeu com algum estranhamento por não reconhecer aquele garoto que ligava:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Quem é?</div>
<div style="text-align: justify;">
Rodolfo explicou quem era e qual era o motivo da ligação, o semblante do senhor mudou, agora ele era todo sorrisos, ao saber que o garoto ligava para pesquisar sobre a vida de seu tio. O Senhor explicou:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Meu nome também é Valcir, assim como meu tio e meu avô. Eu sou filho do Gustavo, meu pai faleceu há alguns anos. Eu nasci depois da morte do meu tio, mas eu sei todas as histórias dele, meu pai me contou tudo, quase todo dia nós falávamos sobre ele, apesar da saudade que a família sempre sentiu, parecia que ele estava lá conosco quando meu pai me contava uma história do tio Valcir. Meu pai me contou a história de cada jogo que ele jogou ao lado meu tio no Chora Rita.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Chora Rita?</div>
<div style="text-align: justify;">
- O Chora Rita era o time do tio Valcir e do meu pai na faculdade de direito da UFMG. Deixa eu te mostrar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Valcir saiu da imagem e retornou 20 segundos depois com uma camisa emoldurada com várias mensagens e assinaturas.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Essa é a camisa que eles usavam, pode-se dizer que essa foi a cereja do bolo da curta e bela vida do meu tio. o Chora Rita era tudo para ele, uma família, um símbolo de união e igualdade em um tempo desigual. Ser do Chora Rita era ser parte de algo maior do que os indivíduos que compunham o time. Olha esse vídeo do meu tio comandando o grito de guerra do Chora Rita.</div>
<div style="text-align: justify;">
O sobrinho dividiu a tela e mostrou um vídeo de seu tio à frente do Chora Rita demonstrando toda a sua garra e liderança. Valcir contou todas as histórias do Chora Rita, o primeiro título, os jogos jurídicos junto com os amigos, as inúmeras cervejas divididas com os companheiros de time. A História impressionou Rodolfo, que percebeu que Valcir amava a vida de maneira tão intensa, que viveu em poucos anos o que a maioria não vive em uma longa vida. O que de certa forma fazia Rodolfo ter um pouco de vergonha da vida sem sentido que ele levava.</div>
<div style="text-align: justify;">
O sobrinho mostrou também o discurso de orador que seu tio tinha proferido perante seus colegas do direito, professores e familiares. Nesse discurso Valcir demonstrava toda a sua inteligência e seu idealismo. Rodolfo percebeu que Valcir era um ser humano diferenciado que marcou muitas e muitas pessoas</div>
<div style="text-align: justify;">
Enfim, Rodolfo finalizou a ligação que havia durado por volta de duas horas, ele estava emocionado e bastante suado, ouvir aquelas histórias parecia ter ativado nele uma vontade de viver, de lutar, de não deixar nada ou ninguém ser um obstáculo para os objetivos nobres e pelos quais nós devemos lutar todos os dias.</div>
<div style="text-align: justify;">
O Espírito eterno de Valcir contagiou mais um...</div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 12.0pt; mso-line-height-alt: 11.9pt; text-indent: 54.0pt;">
<span style="color: #454545; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/SUtWbBv6elQ?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 12pt; text-indent: 54pt;">
<span style="color: #454545; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 14.0pt; letter-spacing: 1.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 12pt; text-indent: 0px;">
"<span style="color: #454545; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 14.0pt; letter-spacing: 1.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Penso que podemos aproveitar este momento de
emoção, e dizer que estamos preparados para nos resguardar do vício do
positivismo exacerbado. Não nos percamos no perigoso jogo de vaidades e
petulância tão típicos do mundo jurídico. Sejamos imunes, aos conceitos e
princípios frios, dissociados do verdadeiro Estado Democrático de Direito."</span><span style="color: #454545; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 12pt; text-indent: 0px;">
<span style="color: #454545; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 14.0pt; letter-spacing: 1.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> Valcir ( trecho retirado do discurso de orador)</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-5343029686353552852012-12-28T11:26:00.001-02:002012-12-28T11:26:31.852-02:00O Beijo da Morte<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Júlio César era considerado um grande conquistador de mulheres, quando chegava em uma festa os olhares femininos se dirigiam à sua figura quase que por uma espécie de magnetismo sexual. Para os seus rivais, aquilo era inexplicável, na verdade nem as moças conseguiam explicar a atração que elas sentiam por Júlio. Talvez fosse seu charme, seu porte, sua beleza, seu jeito malandro ou por um golpe de sorte ele teria nascido com um grau de emissão de feromônios sobre humano, nem ele sabia o que tinha de especial...</div>
<div style="text-align: justify;">
Porém Júlio abusava desse poder, com requintes de crueldade. Da mesma forma que seu xará romano aplicava a velha máxima romana "Veni, Vidi, Vici" para ganhos territoriais, o César pegador utilizava-na em referência às mulheres. Ele Vinha normalmente a festas ou a bares, que eram ambientes nos quais seus poderes eram ampliados pelo álcool. Após escolher um lugar de destaque na festa, normalmente perto do banheiro feminino, aonde muitas mulheres transitavam, assim se posicionando para Ver a todas e selecionar aquela que ele percebia ser mais suscetível a seus poderes. Finalmente, após escolher o seu alvo, ele Vencia sempre. Como o seu xará ele usava todos os seus poderes, todas as "legiões" à sua disposição, não tinha nem graça, a vitória era certa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Júlio César não ligava muito para as mulheres já conquistadas, sempre almejava a próxima conquista, a próxima glória. Não atendia telefonemas e nem respondia mensagens das subjugadas, depois que ele conquistava era só terra arrasada, demorava algum tempo para as mulheres reconstruírem suas vidas arrasadas.</div>
<div style="text-align: justify;">
É fato que todos os impérios caem um dia, e o império de conquistas fáceis de Júlio César não teria fim diferente. Uma noite qualquer, Júlio César se encontrava em um de seus campos de batalha noturnos escolhendo avidamente, como general veterano que era, a conquista ideal para aquela noite, quando de repente seu olhar se cruzou com o de uma adversária à sua altura, uma clássica batalha Roma contra Cartago se desenrolaria, finalmente ele se deparava com uma destruidora de corações como ele. Porém a batalha não começou bem para Júlio César, a presença daquela mulher o fez sentir coisas que nunca havia sentido, suas mãos suavam muito, seu coração estava disparado, suas legiões estavam na defensiva, prontas para serem estraçalhadas por um ataque decisivo da cavalaria adversária. E tal ataque não demorou, assim que sua adversária se aproximou e percebeu o seu oponente acuado, ela desferiu o chamado beijo da morte, estrategicamente posicionado, como uma flecha, no canto da boca de Júlio César, indo embora logo em seguida recebendo congratulações das outras mulheres. </div>
<div style="text-align: justify;">
As mulheres que assistiram incrédulas tal batalha, como que por um passe de mágica pararam de sentir a força dos poderes de Júlio César, que ao perder sua invencibilidade deixou o campo de batalha praguejando e dizendo que na próxima noite ele estaria de volta com a mesma força de antes, o que de fato não aconteceu, o medo daquela adversária eliminou a sua confiança e de fato destruiu seus poderes. Começavam, com sede de vingança, as invasões bárbaras.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-74005549854426740542012-12-21T14:03:00.001-02:002012-12-21T14:03:29.577-02:00Ciúme Maia<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
K'inich descia a montanha nas proximidades de Palenque, ele voltava do Grande Templo, aonde ele era o grande responsável pela manutenção do fantástico calendário maia. O seu conhecimento sobre as estrelas lhe dava uma capacidade de interpretar o calendário e projetar o futuro. Tudo que K'inich fazia em relação ao calendário era às escondidas, pois ele não era da classe dos sacerdotes, mas devido ao seu talento para observar as estrelas, o sumo sacerdote utilizava-no como uma espécie de consultor secreto trabalhando no templo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Naquele dia do ano de 648 D.C, quando K'inich chegou em casa, encontrou a sua companheira Zac-Kuk com aquela cara de brava que homens de qualquer tempo e lugar conhecem. Apesar de entender tudo dos ciclos do calendário, os de sua mulher sempre lhe pegavam desprevenido.</div>
<div style="text-align: justify;">
- O que foi amor? algo de errado?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu estava conversando com minhas amigas e elas me disseram que as virgens lá do templo ficam te dando o maior mole!</div>
<div style="text-align: justify;">
- Que isso amor! eu vou naquele templo só para trabalhar no calendário, se dependesse de mim eu trabalharia aqui em casa, mas os sacerdotes fazem questão de manter meu trabalho escondido naquele templo, ninguém pode saber que eu entendo mais das estrelas do que eles.</div>
<div style="text-align: justify;">
- É que às vezes você demora muito para chegar, ai eu começo a pensar coisas...</div>
<div style="text-align: justify;">
- Fique tranquila, meu amor. Além de tudo os sacerdotes são muito sérios com essas coisas, as virgens estão lá para se concentrar para serem sacrificadas brevemente, elas não conversam com ninguém no templo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ao ouvir aquela frase, Zac-Kuk foi dominada pelo poder da fase anterior à renovação do seu ciclo feminino, com certeza se falássemos de um ciclo de seu calendário, K'inich poderia estar mais bem preparado para aquela súbita explosão.</div>
<div style="text-align: justify;">
- A É? ENTÃO QUER DIZER QUE SE OS SACERDOTES NÃO FOSSEM TÃO VIGILANTES, VOCÊ IRIA SE ESBALDAR?!!!!!!!!!!!!</div>
<div style="text-align: justify;">
- Não amor, não é nada disso que eu quis dizer...</div>
<div style="text-align: justify;">
- EU NÃO QUERO SABER! A PARTIR DE AMANHÃ VOCÊ NÃO TRABALHA MAIS NESSE MALDITO TEMPLO! AGORA SOU EU OU O CALENDÁRIO!</div>
<div style="text-align: justify;">
- Amor, é claro se você me fizer escolher, eu escolho você! mas me preocupa que o calendário não está terminado, eu parei no dia 21 de Dezembro de 2012. Me preocupa deixar o calendário assim aleatoriamente terminando em um dia qualquer, isso pode ser interpretado erroneamente no futuro...</div>
<div style="text-align: justify;">
- Acho que num tem problema, isso é uma coisa mais local, daqui a alguns meses ninguém nem vai lembrar desse calendário, agora vamos dormir...</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-79981558034626562582012-12-15T11:29:00.000-02:002012-12-16T14:52:42.756-02:00O engraxate<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Mais uma vez a sua mente lhe indicava que ele já tinha estado naquela situação, tudo lhe era familiar, as pessoas, o que era dito por elas, as coisas à sua volta, nada era inédito. Ultimamente isso acontecia com uma frequência assustadora, às vezes ele sentia que já tinha vivido certo momento por várias vezes. Ele pensou em procurar ajuda...</div>
<div style="text-align: justify;">
Uma vez mais, chegou ao consultório do terapeuta com aquele tradicional sentimento de já ter conversado com aquela secretária em algum momento de sua vida. A explicação do terapeuta para seus problemas lhe pareceu repetitiva, parecia que ele já tinha ouvido aquela análise antes...</div>
<div style="text-align: justify;">
De novo pensava estar ficando maluco, todas as situações pareciam ser repetidas, com cada vez era menor distância entre um replay e o outro. Ele indagava se era ele o único a viver naquele mundo, a saltar de "deja vu" em "deja vu"...</div>
<div style="text-align: justify;">
Sua indagação poderia ser respondida tanto afirmativamente quanto negativamente. Os outros viviam a mesma repetição incessante de momentos, porém não percebiam isso. Não, ele não era o único a viver tal dilema, mas por outro lado, Sim, ele era o único que sofria com aquilo. Para os outros, imaginava ele, a "dejavuzite" era inerente à vida e eles não sabiam viver de outra forma.</div>
<div style="text-align: justify;">
Numa segunda-feira qualquer, ele caminhava para o trabalho com uma sensação de repetição incrível, parecia que nada à sua frente era visto pela primeira vez, as confusões em sua mente fizeram-no ficar um pouco tonto. Ele teve que se assentar na primeira cadeira disponível, no caso ele se assentou na cadeira de um engraxate que ali trabalhava há 40 anos:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Vai engraxar senhor? Perguntou o homem sorridente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar de nunca ter sentado naquela cadeira, aquele momento não lhe parecia estranho</div>
<div style="text-align: justify;">
- Por favor.</div>
<div style="text-align: justify;">
O homem sorridente começou a engraxar o seu sapato com muita dedicação e carinho naquilo que fazia, seu sapato começava a brilhar mais e mais. Porém o efeito maior de tal engraxar não era sobre o seu sapato e sim sobre a sua mente, começara a refletir sobre aquele homem que engraxava um sapato após o outro, dia após dia, mês após mês, ano após ano e sempre com aquele sorriso e com a mesma dedicação. Devido à sua situação dramática, resolveu perguntar.</div>
<div style="text-align: justify;">
- O senhor faz isso há tanto tempo, é um trabalho repetitivo, o senhor não se cansa de viver a mesma coisa todos os dias?</div>
<div style="text-align: justify;">
Aquela pergunta não perturbou o sorriso do velho engraxate.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Não senhor, eu sou muito feliz fazendo o que eu faço. O senhor não está certo quando diz que é a mesma coisa todos os dias, cada sapato que eu engraxo tem a sua história marcada nas ranhuras do calçado, eu tento imaginar sempre aonde aquele sapato esteve, os lugares que ele pisou, para mim cada sapato é um mundo... Parece repetitivo, mas dentro da minha cabeça não é.</div>
<div style="text-align: justify;">
As palavras do velho engraxate foram um abrir de olhos para o homem, se aquele homem conseguia transformar sapatos em mundos, ele também poderia começar a vencer seus "deja vus". Ao se levantar da cadeira e retomar a sua caminhada ele passou a olhar para as caras de cada transeunte e imaginar o que cada um estava vivendo naquele dia, o que pensavam, o que sentiam...</div>
<div style="text-align: justify;">
O ensinamento do sábio engraxate tocou-lhe de tal forma que a partir daquele dia cada situação e cada pessoa passaram a ser universos de infinitas variações e possibilidades, era a vitória da imaginação sobre a rotina.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-35690649819506870052012-12-06T08:45:00.002-02:002012-12-06T08:45:24.037-02:00Proselito<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Proselito adorava discutir sobre
tudo e sobre todos, é claro que discutir na concepção de Proselito era, na
verdade, tentar impor a sua visão sobre o mundo a outras pessoas. Qualquer
assunto era um possível teatro de guerra para as operações do exército de
argumentos de Proselito. Ele entediava as pessoas na feira, tentando
convencê-las que brócolis era melhor do que alface, no cabelereiro, certa vez
seus argumentos em forma de deboche mirados contra o cliente sentado ao seu
lado foram tão agressivos que a vítima preferiu ir para a casa com meio cabelo
cortado. Seu proselitismo já fora diagnosticado por especialistas como
patologia, é claro que tal diagnóstico foi devidamente contra argumentado por
Proselito, que chateava todos os médicos com sua incessante defesa da medicina
dita por ele, moderna, anti-diagnóstica. A última palavra sempre tinha que ser
a dele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um belo dia (nada belo na opinião
de Proselito) quando voltava da feira, aonde já tinha chateado algumas pessoas
com suas ideias sobre a pequena utilidade do dinheiro e que para ele a economia
deveria ser baseada no puro e simples escambo, se deparou com uma manifestação
contra a violência, que foi prontamente ridicularizada por ele que acreditava
que a violência era inata ao ser humano. Um dos manifestantes tomou as dores do
grupo ofendido e foi tirar satisfações, no fim das contas a argumentação de
Proselito foi tão descabida e enervante que ele conseguiu a proeza de arranjar
uma briga com um pacifista. A polícia chegou ao local e prendeu os dois
briguentos, tendo que ouvir no caminho para a delegacia o chatíssimo discurso
de Proselito advogando a inexistência da polícia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por obra do destino, Proselito
foi colocado para dividir a cela com um dos grandes traficantes da cidade, que
já tinha sido preso muitas vezes, mas sempre era liberado porque não existiam provas de seus fatos criminosos. Esse
indivíduo tinha sido submetido a métodos de tortura que fariam inveja à Gestapo
e mesmo assim ele nunca dobrou, nunca contou nada sobre suas atividades
criminosas e nunca delatou ninguém. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Proselito não tinha nada para
fazer naquele lugar e mesmo se tivesse não escolheria outra coisa para fazer
além de aborrecer alguém com seus conceitos e opiniões sobre tudo. Depois de
uma hora, o criminoso já estava com uma forte dor de cabeça e náusea. Ele
começou a imaginar que Proselito era um policial disfarçado tentando aborrecê-lo
até obter uma confissão, resistirei como sempre pensou o criminoso sem tanta
convicção, pois nunca uma tortura tinha mexido tanto com a sua força de vontade
como aquela que estava sendo administrada por Proselito no momento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Outra hora se passou e finalmente
o criminoso se curvou:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-Tá, eu confesso, chega por
favor, eu fiz tudo aquilo, estou preparado para confessar todos os meus crimes
e delatar meus comparsas, vocês venceram, chega!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Proselito respondeu prontamente
com um brilho nos olhos:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-Confissão... hein, interessante.
Acho que nunca opinei sobre as confissões, vamos lá então...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-47815310565206671092012-11-26T22:20:00.003-02:002012-11-26T22:25:55.310-02:00A revolta dos personagens<div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um aspirante a escritor luta para encontrar a ideia para um novo texto, até que a ideia lhe vem, ele escreve o texto, mais uma vez a história termina com um de seus personagens se dando mal, revelando todo o sadismo literário que o embalava. Porém dessa vez, um pouco antes de digitar a última palavra de seu texto, ele ouve uma voz do além:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Ah para com isso cara! de novo...</div>
<div style="text-align: justify;">
O escritor começava a se indagar se estava ficando louco, ele começava a lembrar dos avisos de várias pessoas que lhe avisaram que essa mania de escrever não era coisa de gente certa da cabeça, ele tentou se convencer que a voz era obra da sua imaginação alimentada pelo avançar da noite e voltou a tentar digitar aquela última palavra. De maneira mais enfática a voz voltava:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Não adianta me ignorar, eu sou parte de você!</div>
<div style="text-align: justify;">
O escritor já certo de sua loucura resolveu responder:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Quem é você?</div>
<div style="text-align: justify;">
-Eu sou um de seus personagens, o Astolfo. O negócio é o seguinte, eu estou me comunicando com você porque eu e os outros personagens não estamos satisfeitos com os seus finais, nós sempre nos damos mal! Por que você tem que ser tão cruel?</div>
<div style="text-align: justify;">
O escritor não sabia o que responder, na verdade ele não sabia se deveria responder às perguntas daquela alucinação, mas no fundo a sua cabeça de escritor começou a realmente acreditar que estava conversando com um de seus personagens, além disso, ele imaginou que sendo alucinação ou não, seria uma boa ideia digitar a conversa, se aproveitando para escrever um conto metalinguístico. Ele respondeu assertivamente:</div>
<div style="text-align: justify;">
-É o meu estilo, os finais felizes são politicamente corretos e isso não combina com os meus textos.</div>
<div style="text-align: justify;">
-HA HA HA, pois é bom você mudar o seu estilo, nós não iremos tolerar esse tratamento desumano!</div>
<div style="text-align: justify;">
-Ei peraí, eu sou o dono de vocês, eu criei todos vocês, eu imagino o final da história como bem entender! Além do mais, qual é o problema dos meus finais, vocês se ferram para eu fazer humor ou para levar o leitor a alguma reflexão sobre a vida, vocês são meus mensageiros.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Esse que é o problema, escritorzinho que começou outro dia e acha que é Deus. Na minha história por exemplo, se você tivesse deixado eu pegar a loira seria bom para mim e para você também, a mulherada gosta de final feliz. A mulher do texto do despertador também não achou legal você ter feito a vida dela voltar à rotina, pura sacanagem. O Adriano nem parou de jogar bola e você já antecipou a morte dele! O Adriano fictício ficou tão deprimido que tá bebendo mais que o de verdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
-E daí é como eu disse, eu crio vocês. Se não estiverem satisfeitos eu crio outros personagens.</div>
<div style="text-align: justify;">
-Não é assim que funciona, aqui no mundo dos personagens da sua cabeça nós podemos nos rebelar e fazer com que as ideias de novos personagens não lhe venham mais. Você notou como ultimamente você não tem conseguido criar personagens com tanta facilidade?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Notei, mas isso é só uma fase, a inspiração vai voltar.</div>
<div style="text-align: justify;">
-Vai nessa...</div>
<div style="text-align: justify;">
-Eu vou provar para você que eu é que mando nessa merda!</div>
<div style="text-align: justify;">
-Prova então!</div>
<div style="text-align: justify;">
-Se eu desligar esse computador e parar de escrever esse texto da revolta dos personagens eu provo que eu estou no controle!</div>
<div style="text-align: justify;">
-Ah vai pra</div>
<div style="text-align: justify;">
Antes do personagem terminar seu insulto, o escritor puxou a tomada do computador, ele pensou que era melhor aquele texto nunca ser publicado, ele mostrava um escritor acuado pelas suas criações. Assim como Zeus puniu o Titã Prometeu, ele pensaria em uma maneira sádica e cruel para punir seus personagens. Entretanto, o "Zeus" literário não teria vida fácil com esses Titãs, pois descobriu no dia seguinte o texto proibido à mostra em seu blog, o equivalente a uma invasão ao Monte Olimpo.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-25649238939790278692012-11-13T23:28:00.001-02:002012-11-14T09:39:24.882-02:00Negócios, Negócios, amigos à parte (nº2)<br />
<div style="text-align: justify;">
George W. Bush contempla uma carabina automática M4A1 em seu rancho no Texas, pensando nos rios de dinheiro que ele havia ganhado dos fabricantes daquela belezinha, graças aos seus grandes esforços de guerra. De repente ele escuta uma voz:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Georgie como que você está, meu melhor amigo!</div>
<div style="text-align: justify;">
-O que isso uma voz do além, quem acredita nesse tipo de coisa são os democratas!</div>
<div style="text-align: justify;">
-Sou eu Bush, o cara que alavancou sua carreira política.</div>
<div style="text-align: justify;">
-Eu não acredito! Bin Laden, será possível que é você, o que está fazendo aqui?</div>
<div style="text-align: justify;">
-A mulecada tá foda, meus mártires de guerra estão cheios de virgens a seu dispor e não querem me emprestar nenhuma. Eu como nunca fiz aquelas coisas diretamente, não ganhei nenhumazinha, então eu pensei em te visitar meu amigão.</div>
<div style="text-align: justify;">
-Nossa Bin, que saudade que eu tenho do nosso tempo dividindo os noticiários, minha popularidade lá em cima com as guerras. Aquela ideia sua do 11 de Setembro foi coisa de mestre, eu virei um grande herói, foi bom enquanto durou...</div>
<div style="text-align: justify;">
-Sem falar na grana que nós faturamos no mercado de ações naquele ano...</div>
<div style="text-align: justify;">
-O problema foi depois, acho que nós viciamos naquele jogo de gato e rato, o exército descobria aonde você estava, eu tentava despistá-los ganhando tempo para você fugir, e ai quando bombardeavamos a caverna você já tinha fugido, e no dia seguinte começava tudo de novo, bons tempos Osaminha...</div>
<div style="text-align: justify;">
-Quem não gostou daqueles dias foi o Saddam, eu conversei com ele outro dia e o cara tá puto com você, ele pensou que era da turma!</div>
<div style="text-align: justify;">
-O Saddam é um otário, nunca gostei dele, ele era amigo de papai. Quando eu era mais novo ele me trouxe uma AK-47 toda quebrada de presente de aniversário, que falta de consideração, nem para me trazer uma amostra daquela arma química que usou contra os curdos. Eu jurei que teria a minha vingança.</div>
<div style="text-align: justify;">
-A deixa pra lá, Georgie, esquece o Saddam, vamos falar de coisa boa, como está essa vida de aposentado texano?</div>
<div style="text-align: justify;">
-Uma bosta! Passo os dias aqui no rancho pensando naqueles tempos dourados que eu e você tivemos, minha vida não faz sentido sem você aqui.Culpa daquele democrata safado do Obama, qual é o problema desses democratas? parece que não gostam de guerras! que caras estranhos, não sei qual será o futuro do planeta com esses pacifistas no poder.Que que eu faço Osaminha? não consigo viver sem você do meu lado!</div>
<div style="text-align: justify;">
-Eu tenho uma ideia cara, vem pra cá!</div>
<div style="text-align: justify;">
-Como assim?</div>
<div style="text-align: justify;">
-Aqui nós podemos sentar no sofá e assistir às guerras de todo o planeta com várias câmeras e ângulos, é um serviço de pay per view que eles tem aqui, O Hitler quando veio pra cá iniciou esse canal de guerras porque ele estava muito entediado, hoje é um sucesso entre os megalomaníacos falecidos. Vai ser como aquele Super Bowl que nós assistimos juntos em 2002.</div>
<div style="text-align: justify;">
Bush não hesitou em utilizar em si mesmo todo o poder mortífero da carabina que antes tinha lhe dado tantas alegrias. Porém, em cima da mesa ensanguentada, ao lado de alguns cartuchos calibre 5.56mm, estava um vidro de remédio contra a esquizofrenia que assolava a mente de Bush desde a morte de seu querido amigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-80654419719666298902012-11-12T23:50:00.002-02:002012-11-12T23:50:13.243-02:00A Contradição da Lapa<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pitor Vinheiro era um boêmio
típico da Lapa nos anos 30, era a época dourada da malandragem carioca. Pitor
amava a noite na Lapa com toda a sua magia que fazia as noites serem
memoráveis. Para Vinheiro, não havia nada mais especial do que as mulheres da
Lapa, principalmente as profissionais, “Profissão mais antiga do mundo com
merecimento” pensava o nosso boêmio. Para ele, essas nobres profissionais eram
como anjos da noite, anjos decaídos que proporcionavam uma hora que seja de
luxúria e prazer aos corpos mais necessitados, e para Vinheiro os Oráculos
sexuais erguidos na Lapa providenciavam não só um tratamento terreno, mais
principalmente uma cura espiritual para aqueles que não se atraiam muito pelas
ditas “mulheres de estirpe” de Botafogo e do Flamengo. Os homens que adentravam
a Lapa buscando satisfazer seus impulsos carnais, acabavam se deparando com uma
curiosa situação: criavam fortes vínculos emocionais com aquelas mulheres,
inclusive por vezes deixando de se entregar ao prazer para passar noites conversando
sobre suas frustrações e problemas naquele mundo estranho ao sul do bairro da
Glória.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vinheiro passava por uma grande
crise de identidade naquele ano de 1937, após a intentona comunista de 1935, o
governo de Getúlio Vargas tinha intensificado a sua repressão sobre os bairros
populares como a Lapa, aonde muitos jovens intelectuais comunistas passavam as
suas noites a discutir o futuro do Brasil, sem deixar de aproveitar as delícias
da Lapa, é claro. Acontece que Pitor Vinheiro era um grande tenente de Plínio
Salgado, o líder do integralismo, movimento que tinha como lema o mote “Deus,
Patría e Família”, e por isso Vinheiro havia jurado lutar contra os comunistas
até a morte se necessário fosse. As dúvidas na cabeça de Vinheiro se avolumavam
cada vez mais, além de não poder empreender a caça aos comunistas ordenada por
Getúlio e por seu padrinho Plínio Salgado, não podia também revelar a sua
identidade noturna. Ao longo do dia, ele participava de manifestações
moralistas defendendo a virgindade das moças, e à noite era pura esbórnia na
Lapa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Com o aumento da repressão,
Vinheiro começou a perceber que o problema não era ele e sim a sociedade. Em
sua cabeça era plenamente possível sintetizar o seu dia e a sua noite, o seu
integralismo ferrenho com a sua lugubridade noturna. Para ele, as escapadas
noturnas e os encontros de corpo e alma com as moças da Lapa eram fundamentais
para que no outro dia ele tivesse o equilíbrio para defender seus ideais. Por
mais contraditório que isso possa parecer, para Pitor Vinheiro o alicerce da
sociedade brasileira estava em lugares como a Lapa, aonde os homens
descarregavam todas as suas frustrações e recarregavam as suas baterias. Para
ele, o mote “Deus, Patría e Família” andava lado a lado com as palavras “Vem
cá, minha fogosa!”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O único erro de Vinheiro foi
tentar defender essa síntese em
panfletos que resolveu distribuir por toda a Cidade, contra os conselhos de
amigos mais próximos, que pensavam que ele tinha ficado completamente maluco.
Ele chegou até a pedir uma audiência, negada, com o Presidente Vargas para
expor as suas visões políticas que defendiam a valorização da boêmia como
sustentáculo da sociedade. Vinheiro não deixava de ter uma dose de razão em
seus pleitos, porém a sociedade nunca os aceitaria como válidos e não demorou
para os policiais do Estado Novo identificarem nosso integralista de
carteirinha como um subversivo comunista. Vinheiro foi preso e passou os anos
na cadeia a pensar em como abrir o seu próprio prostíbulo, “já que não me
entendem fora da Lapa, o jeito é ficar por lá...”, pensou Pitor Vinheiro com um
ar de gênio mal compreendido.<o:p></o:p></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-85382870397821320822012-11-09T09:31:00.002-02:002012-11-09T09:47:42.502-02:00A Segunda Morte<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A equipe de reportagem chegava em um bairro humilde do Rio de Janeiro, chegavam mais especificamente à Vila Cruzeiro, com o objetivo de entrevistar um ídolo do passado. A equipe não entendia muito bem o porquê daquela entrevista, afinal de contas nunca tinham ouvido falar daquele jogador, atletas que lhes eram familiares de 30 anos atrás eram o famosíssimo Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, o já falecido Romário, entre outros. O chefe de redação, para justificar a pauta, simplesmente havia dito a eles que esse era um jogador que ele lembrava da sua infância e que daria uma grande reportagem de capa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Buscaram dentro das ruelas daquela comunidade o endereço, às vezes perguntavam na rua, ninguém sabia aonde a pessoa procurada morava. Eles já estavam quase desistindo da procura depois de três horas de buscas sem resultado, foi quando resolveram parar em um buteco para ver se o dono sabia aonde encontrar o entrevistado, e lá chegando nem notaram um senhor negro, alto porém um pouco encurvado, a pança de cerveja um pouco para fora da camisa, sentado na única mesa ocupada do bar, o relógio acusava 10 horas da manhã.</div>
<div style="text-align: justify;">
Perguntaram ao dono:</div>
<div style="text-align: justify;">
- O senhor sabe aonde eu encontro o Senhor Adriano, um que foi jogador de futebol há 30 anos?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Olha ele ali rapaiz! ele toma cerveja aqui todo dia, é meu freguês nº 1.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eles olharam para trás e visualizaram o senhor Adriano, que na visão da equipe parecia que não vinha se alimentando muito bem, tirando é claro a cevada diária. Eles se aproximaram cuidadosamente, os olhos de Adriano pareciam brilhar quando ele viu que um deles trazia uma câmera fotográfica:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Você é o Senhor Adriano que jogou na seleção brasileira nos anos 2000?</div>
<div style="text-align: justify;">
Adriano já não estava tão acostumado a ser tratado com essa reverência toda, era um Imperador decaído, porém parece que a presença da equipe de reportagem fez com que a Coroa voltasse à sua cabeça.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Sou eu mesmo, meu filho, eu quando partia pra cima da zaga e chutava forte com a perna esquerda não tinha goleiro que pegava um chute meu.</div>
<div style="text-align: justify;">
A essa altura Adriano se levantava em uma tentativa de demonstrar as suas antigas habilidades futebolísticas, mas os repórteres estavam mais interessados em saber o que interrompeu a sua grande carreira.</div>
<div style="text-align: justify;">
-Mas por que você decidiu encerrar a sua carreira aos 30 anos quando ainda tinha idade para demonstrar grande futebol?</div>
<div style="text-align: justify;">
Aquela pergunta trouxe Adriano de volta à realidade, o brilho nos seus olhos foi embora, ele agora começava a se lembrar porque ele odiava a imprensa, entretanto ele resolveu ser sincero com um jornalista pela primeira vez na vida, afinal de contas não tinha nada a perder.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Cara eu morei aqui na Vila Cruzeiro quase toda a minha vida, eu amo isso aqui, aqui eu me sinto em casa e eu amava jogar futebol. Todo o resto eu não gostava: treinos, viagens, concentrações, falar com a imprensa, contratos, publicidade... Eu só queria jogar futebol e curtir com meus amigos aqui da Vila Cruzeiro, então comecei a beber muito para fugir dessa rotina chata de jogador profissional e quando eu comecei a beber muito, meu corpo deixou de ter condições de fazer o que eu mais amava.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os olhos de Adriano já estavam marejados a essa altura, o repórter engoliu seco e continuou as perguntas:</div>
<div style="text-align: justify;">
- E como foi a sua vida nesses 30 anos depois de ter parado de jogar futebol?</div>
<div style="text-align: justify;">
Adriano lutava contra a sua vontade de evitar aquela pergunta.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Aos poucos as pessoas se esquecem de você, o dinheiro vai embora, as festas, as mulheres, mas o pior mesmo é que até hoje eu sonho com os estádios lotados, sonho com o Maracanã lotado e eu correndo para a torcida depois de um gol, isso é o pior, é o que sinto mais falta...</div>
<div style="text-align: justify;">
Adriano respirou fundo antes de proferir suas próximas palavras:</div>
<div style="text-align: justify;">
- É como se eu tivesse morrido uma vez e ainda tenho que morrer pela segunda vez.</div>
<div style="text-align: justify;">
A entrevista seguiu com Adriano sendo realmente sincero em todas as perguntas, o jornalista saiu feliz da vida, certo que ganharia algum prêmio por aquela reportagem e Adriano seguiu para a sua casa já bastante embriagado, uma vez que a cada pergunta do jornalista, ele tinha que tomar um copo de cerveja para falar a verdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ele chegou em casa e alavancado pelas memórias reacesas pela entrevista começou a se imaginar fazendo um gol em pleno Maracanã, a esse ponto ele narrava o próprio gol, porém a emoção foi muito forte, seu coração não aguentou a quase visão que ele teve do Maracanã celebrando seu gol. Faleceu o Imperador, era a sua Segunda Morte...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-80853268628783777652012-11-07T23:46:00.003-02:002012-11-07T23:57:50.938-02:00Negócios, Negócios, amigos à parte (nº1)<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nikita Kruschev e John Kennedy conversam ao telefone vermelho:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nikita: E essa crise dos mísseis, que porra foi essa hein John? quase iniciamos o apocalipse...</div>
<div style="text-align: justify;">
John: Porra Niki, eu não entendi você nessa, achei que nós eramos amigos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Nikita: Foi mal, eu tava meio puto com você depois que você não quis ir no meu churrasco lá em Cuba, se você fosse no churras, o Fidel tava animando até de dar uma esticadinha na festa e terminar lá em Guantanamo.</div>
<div style="text-align: justify;">
John: Vocês são foda! eu tenho eleição em breve não posso ser visto andando com vocês, imagina, não seria nada bom para a minha reputação caro Niki.</div>
<div style="text-align: justify;">
Nikita: Velho, mas o Che já tá putaço com você porque você não foi no aniversário dele na Bolívia ano passado...</div>
<div style="text-align: justify;">
John: isso foi paia mesmo, o Che é meu amigo mas ele é mais bonito do que eu, então quando eu saio na night com ele num sobra nada pro Johnny aqui, a Marylin Monroe já ta querendo que eu apresente o Che pra ela...</div>
<div style="text-align: justify;">
Nikita: Mas mudando de assunto, Johnny boy quando você virá me visitar aqui na Rússia?</div>
<div style="text-align: justify;">
John: to fora, ai é frio pra caralho!</div>
<div style="text-align: justify;">
Nikita: que frio rapaiz, o pessoal do politburo tem uma casa de verão na Crimeia e não sei se você sabe mas as Ucranianas tem uma tara em mostrar os seios em público! Acho que é uma habilidade que elas ainda desenvolverão no futuro, temos que começar a incentiva-las!</div>
<div style="text-align: justify;">
John: Não vou! até hoje você não me mandou minha carteirinha de membro honorário do Partido Comunista Soviético, poxa, toda aquela cerimônia secreta e nada da minha carteirinha confidencial...</div>
<div style="text-align: justify;">
Nikita: Johnny você é meu amigo, mas você é muito sensível, depois reclama quando eu tento explodir o seu país...</div>
<div style="text-align: justify;">
Nikita desliga o telefone vermelho e diz para um subalterno:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Peça um ataque nuclear a Washington, só assim mesmo para fazer o Johnny passar o Verão conosco na Crimeia...</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-28521821650990985662012-11-06T21:28:00.002-02:002012-11-09T10:20:15.083-02:00O despertador<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O despertador tocava “Another day” de
Paul McCartney, uma mulher acordava para mais um dia de trabalho, ela levantou,
olhou para o sua cama de casal, ela ainda não havia se acostumado a ocupar todo
o espaço da cama, ainda lamentando o vazio de um amor que não mais preenchia o
outro lado da cama. Sua rotina já era como um relógio suíço, era como se tudo
que ela fazia ao longo do dia acontecesse automaticamente, parecia que corpo e
mente não estavam em uníssono, e mesmo sua mente era dividida por uma guerra
mortal entre sua parte consciente e seu subconsciente. O corpo cuidava de todo
o dia se levantar, tomar banho, se vestir, beber muito café e trabalhar, sempre
aproveitando os intervalos para ingerir doses cavalares de café, que permitiam
a ela seguir em frente naquela eterna repetição. A sua mente, por outro lado,
se via totalmente desconectada da realidade, sonhos em plena luz do dia,
pensamentos se embaralhavam com ideias e desejos, parecia que tudo a fazia
lembrar do seu amor perdido, às vezes ela acordava de seus sonhos e percebia
que havia feito relatórios e mais relatórios sem sequer ter percebido que os
fazia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Porém naquele dia, que até então não
se diferenciava muito dos 556 dias úteis anteriores, seus colegas que sempre a
convidavam para os encontros após o serviço, mas sempre ouvindo o costumeiro
“não, eu tenho que organizar algumas coisas lá em casa ou “hoje não dá, têm
visitas se hospedando lá em casa”, sempre as mesmas mentiras que faziam-na se esconder do contato humano, pois naquele
dia, talvez por um reflexo involuntário causado pela ingestão excessiva de
café, as palavras que saíram de sua boca foram as inacreditáveis: “Vamos sim”.
Nem ela entendeu porque concordou em ir naquele happy hour, talvez ela tenha
sido influenciada pela leitura de seu
horóscopo um pouco mais cedo, ou o mais provável, talvez o seu
subconsciente queria evitar o encontro com o síndico que iria lhe espezinhar
falando do condomínio que estava atrasado há alguns meses. “Nessa o meu
subconsciente mandou bem”, pensou o seu consciente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Algumas horas e cervejas mais tarde, o
seu semblante já não era mais o mesmo, com certeza naquelas horas a sua
carência de sociabilidade tinha sido satisfeita, a própria quebra da rotina
mecânica que ela vinha levando tinha mais poder sobre ela do que o álcool em
si. Mais horas passaram e a turma terminou a noite em uma boate movimentada, a
mulher agora parecia muito mais uma máquina de dança do que aquele artefato de
chatice que ela havia sido nos últimos tempos e tamanha destreza na pista de
dança não deixaria de atrair os mais variados olhares masculinos. Foi então que
o seu olhar embriagado cruzou com outro na mesma situação e pelo poder deste
lubrificante social, que é o nosso querido álcool, rapidamente olhar virou
conversa, que virou beijos, que em pouco tempo se transformou no preenchimento
daquele vazio na sua cama. O sexo, para quem, além de não tê-lo há tanto tempo,
vivia uma vida monótona, foi uma descarga de emoções que fez sua mente se unir
ao seu corpo, enquanto este se unia ao corpo de seu parceiro. Por um breve
momento, o subconsciente e o consciente cessaram as hostilidades em um
armistício sexual e trataram de curtir cada qual à sua maneira aquele momento
delicioso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No dia seguinte, ela venceu o
despertador por alguns minutos, seu consciente não acreditava que alguém ainda
estaria ao seu lado, porém seu subconsciente já imaginava até um
relacionamento. A sua mão a tatear procurando o parceiro, tratou de jogar por
terra as pretensões do subconsciente, o mesmo vazio de antes lá estava. O
despertador tocava “Another day” de Paul McCartney...<o:p></o:p><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/hFzEA7ZAfZQ?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3430081617963828883.post-75807733098857910162012-11-06T21:23:00.000-02:002012-11-09T10:20:43.333-02:00Beirando a realidade<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Astolfo sonhava um dia conversar
com uma mulher cara a cara, ter um encontro de verdade, será que seria pedir
demais meu bom Deus, pensava Astolfo. Naquela manha, o nosso herói se
encontrava em um cybercafé checando o que havia de novo em seu facebook, não
havia muita coisa, pelo menos nada que fosse aproximar nosso querido Astolfo de
realizar o seu desejo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Algum tempo depois, quando
Astolfo estava se informando sobre os novíssimos lançamentos da Indústria de
jogos, inclusive um jogo incrível que permitia ao jogador encarnar uma pessoa
comum que vai a cybercafés para se plugar na Internet, Astolfo teve uma espécie
de Epifania, “quem sabe eu não tento entrar num site de relacionamentos para
resolver meu problema?” Pesquisou com destreza no google previamente aberto e
que pulsava com pesquisas sobre os novos aplicativos que ele precisaria para
rodar os seus novos jo<i>g</i>os. Entrou no
primeiro site que viu na imensa relação que apareceu no seu console, fez um
rápido perfil, sendo honesto em alguns pontos em outros nem tanto, como no
quesito “Enumere a quantidade de relacionamentos anteriores”, no qual ele teve
que indicar o astronômico, porém fantasioso número de três relacionamentos.
Nosso galã virtual não nutria a maior das esperanças nessa sua tentativa
desesperada de reverter a sua sorte, mas não tinha muito a perder, então enviou
o perfil.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para a sua surpresa, Astolfo foi
incomodado bem no meio de uma movimentada sessão de um jogo de tiros online. A
mensagem tinha os dizeres: “Seu perfil foi recebido por Megan Vox que deseja
iniciar uma conversa com você”. O coração de nosso Don Juan virtual acelerou,
suas mãos começaram a suar, porém logo após ele foi tomado de um pessimismo
incontrolável, pensando que deveria ser uma mulher das mais feias disponíveis
no site, tomado foi ele também de uma espécie de medo do real, “e agora o que
eu faço?” pensou ele. A sua sorte estava lançada, então o mínimo que ele
poderia fazer era checar a foto e tentar se engajar em papo virtual, já
começava a se arrepender de ter saído da sua zona de conforto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Astolfo entrou na conversa com a
mulher, seu coração quase saindo pela boca, o procedimento daquele site ditava
que a pessoa deveria entrar na conversa com uma webcam transmitindo a imagem ao
vivo, pois quando Astolfo viu a sua
pretendente na Webcam ele não acreditou, ela era uma loira maravilhosa de olhos
azuis que ele só via em seriados de TV, já começou a se imaginar como o Leonard
de um das suas séries favoritas “The Big Bang Theory”, um cara parecido com ele
que conseguiu namorar uma loira maravilhosa, a Penny. Ele até conseguiu
demonstrar uma considerável habilidade no papo virtual, por algum motivo
parecia que o fato de estar por detrás daquela tela o transformava em um
galanteador nato que fazia e acontecia, muitas das coisas ditas por ele não
eram verdadeiras, mas a ausência da sua interlocutora no mesmo ambiente que ele
lhe dava muita confiança. Foi um verdadeiro conto de fadas cibernético, até que
a sua interlocutora falou que teria que ir ao banheiro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No mesmo instante nosso Astolfo
viu uma linda mulher loira se levantar no mesmo cybercafé que ele estava. Como
um raio, a conclusão atingiu o centro do seu cérebro, é ela! Rapidamente aquele
ar de altivez e confiança se esvaiu, a sudorese voltou, seu coração agora
parecia bater em uma arritmia louca, Astolfo sequer hesitou, pegou seu
computador, deixou uma nota de 50 reais com a garçonete sem sequer exigir o
troco e saiu correndo pela porta do estabelecimento. Saiu resmungando,
reclamando da realidade, que era para ele incontrolável e não lhe fazia bem. A
realidade é muito tangível, pensou Astolfo...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tiago Guerra Oliveira <o:p></o:p></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11795891718497211563noreply@blogger.com0