Proselito adorava discutir sobre
tudo e sobre todos, é claro que discutir na concepção de Proselito era, na
verdade, tentar impor a sua visão sobre o mundo a outras pessoas. Qualquer
assunto era um possível teatro de guerra para as operações do exército de
argumentos de Proselito. Ele entediava as pessoas na feira, tentando
convencê-las que brócolis era melhor do que alface, no cabelereiro, certa vez
seus argumentos em forma de deboche mirados contra o cliente sentado ao seu
lado foram tão agressivos que a vítima preferiu ir para a casa com meio cabelo
cortado. Seu proselitismo já fora diagnosticado por especialistas como
patologia, é claro que tal diagnóstico foi devidamente contra argumentado por
Proselito, que chateava todos os médicos com sua incessante defesa da medicina
dita por ele, moderna, anti-diagnóstica. A última palavra sempre tinha que ser
a dele.
Um belo dia (nada belo na opinião
de Proselito) quando voltava da feira, aonde já tinha chateado algumas pessoas
com suas ideias sobre a pequena utilidade do dinheiro e que para ele a economia
deveria ser baseada no puro e simples escambo, se deparou com uma manifestação
contra a violência, que foi prontamente ridicularizada por ele que acreditava
que a violência era inata ao ser humano. Um dos manifestantes tomou as dores do
grupo ofendido e foi tirar satisfações, no fim das contas a argumentação de
Proselito foi tão descabida e enervante que ele conseguiu a proeza de arranjar
uma briga com um pacifista. A polícia chegou ao local e prendeu os dois
briguentos, tendo que ouvir no caminho para a delegacia o chatíssimo discurso
de Proselito advogando a inexistência da polícia.
Por obra do destino, Proselito
foi colocado para dividir a cela com um dos grandes traficantes da cidade, que
já tinha sido preso muitas vezes, mas sempre era liberado porque não existiam provas de seus fatos criminosos. Esse
indivíduo tinha sido submetido a métodos de tortura que fariam inveja à Gestapo
e mesmo assim ele nunca dobrou, nunca contou nada sobre suas atividades
criminosas e nunca delatou ninguém.
Proselito não tinha nada para
fazer naquele lugar e mesmo se tivesse não escolheria outra coisa para fazer
além de aborrecer alguém com seus conceitos e opiniões sobre tudo. Depois de
uma hora, o criminoso já estava com uma forte dor de cabeça e náusea. Ele
começou a imaginar que Proselito era um policial disfarçado tentando aborrecê-lo
até obter uma confissão, resistirei como sempre pensou o criminoso sem tanta
convicção, pois nunca uma tortura tinha mexido tanto com a sua força de vontade
como aquela que estava sendo administrada por Proselito no momento.
Outra hora se passou e finalmente
o criminoso se curvou:
-Tá, eu confesso, chega por
favor, eu fiz tudo aquilo, estou preparado para confessar todos os meus crimes
e delatar meus comparsas, vocês venceram, chega!
Proselito respondeu prontamente
com um brilho nos olhos:
-Confissão... hein, interessante.
Acho que nunca opinei sobre as confissões, vamos lá então...
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