quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Proselito



Proselito adorava discutir sobre tudo e sobre todos, é claro que discutir na concepção de Proselito era, na verdade, tentar impor a sua visão sobre o mundo a outras pessoas. Qualquer assunto era um possível teatro de guerra para as operações do exército de argumentos de Proselito. Ele entediava as pessoas na feira, tentando convencê-las que brócolis era melhor do que alface, no cabelereiro, certa vez seus argumentos em forma de deboche mirados contra o cliente sentado ao seu lado foram tão agressivos que a vítima preferiu ir para a casa com meio cabelo cortado. Seu proselitismo já fora diagnosticado por especialistas como patologia, é claro que tal diagnóstico foi devidamente contra argumentado por Proselito, que chateava todos os médicos com sua incessante defesa da medicina dita por ele, moderna, anti-diagnóstica. A última palavra sempre tinha que ser a dele.
Um belo dia (nada belo na opinião de Proselito) quando voltava da feira, aonde já tinha chateado algumas pessoas com suas ideias sobre a pequena utilidade do dinheiro e que para ele a economia deveria ser baseada no puro e simples escambo, se deparou com uma manifestação contra a violência, que foi prontamente ridicularizada por ele que acreditava que a violência era inata ao ser humano. Um dos manifestantes tomou as dores do grupo ofendido e foi tirar satisfações, no fim das contas a argumentação de Proselito foi tão descabida e enervante que ele conseguiu a proeza de arranjar uma briga com um pacifista. A polícia chegou ao local e prendeu os dois briguentos, tendo que ouvir no caminho para a delegacia o chatíssimo discurso de Proselito advogando a inexistência da polícia.
Por obra do destino, Proselito foi colocado para dividir a cela com um dos grandes traficantes da cidade, que já tinha sido preso muitas vezes, mas sempre era liberado porque não existiam  provas de seus fatos criminosos. Esse indivíduo tinha sido submetido a métodos de tortura que fariam inveja à Gestapo e mesmo assim ele nunca dobrou, nunca contou nada sobre suas atividades criminosas e nunca delatou ninguém.
Proselito não tinha nada para fazer naquele lugar e mesmo se tivesse não escolheria outra coisa para fazer além de aborrecer alguém com seus conceitos e opiniões sobre tudo. Depois de uma hora, o criminoso já estava com uma forte dor de cabeça e náusea. Ele começou a imaginar que Proselito era um policial disfarçado tentando aborrecê-lo até obter uma confissão, resistirei como sempre pensou o criminoso sem tanta convicção, pois nunca uma tortura tinha mexido tanto com a sua força de vontade como aquela que estava sendo administrada por Proselito no momento.
Outra hora se passou e finalmente o criminoso se curvou:
-Tá, eu confesso, chega por favor, eu fiz tudo aquilo, estou preparado para confessar todos os meus crimes e delatar meus comparsas, vocês venceram, chega!
Proselito respondeu prontamente com um brilho nos olhos:
-Confissão... hein, interessante. Acho que nunca opinei sobre as confissões, vamos lá então...


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